O longa argentino que compete na mostra oficial latino-americana do Festival de Gramado agradou àqueles que se acotovelaram para ver Netto perde sua alma na noite dessa quarta-feira. O ponto alto de Un Amor de Borges, filme de Javier Torre com Jean Pierre Noher e Inés Sastre, foi a bela fotografia, em contrapartida a uma atuação apenas razoável de Noher.Com o auditório já lotado, a exibição do filme atrasou um pouco, devido à grande movimentação de gente querendo entrar (também para garantir seu lugar na exibição de Netto...). Ainda assim, quem conseguiu assistir ao filme não se arrependeu. Borges apresentou um roteiro bem estruturado, mostrando a vida do mais célebre escritor argentino antes da fama, quando ainda era um mero empregado em uma biblioteca pública na capital argentina.
Ambientado na época de 40, o filme tem passagens lindas, como as ruas de Buenos Aires à noite, os casarões de época, as vestimentas e toda a poesia de Borges servindo como pano e fundo. Na trama, ele conehce Estela Canto, uma jovem tradutora e correspondente de rádio, comunista ferrenha, pela qual se apaixona perdidamente.
Aí vem à tona o lado introspectivo do escritor. Criado com rigor por seus pais, Borges nunca teve o dom de falar em público ou de externar seus sentimentos de forma fácil. Neste ponto, a interpretação de Jean Pierre Noher peca um pouco, pois ele exagera em certos pontos na gagueira e timidez que se atribuíam ao escritor, tornando as cenas por certas vezes "arrastadas".
Ainda assim, o filme consegue transmitir bem o universo particular do escritor, e as passagens onde Noher/Borges destila os textos do grande argentino são de uma profundidade tremenda. Uma das cenas da parte final do filme mostra o escritor definindo o "Aleph", um lugar onde "tudo se vê, se ouve e se sente", que seria um dos livros de maior sucesso de Borges.
Dedicado, claro, a Estela Canto.