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"Dinossauro" invade as telas com sua exuberância visual
Ao conceber Dinossauro, apontado como o filme mais caro da história (com base no custo por minuto), a Disney concentrou todas as suas energias na proposta de ampliar os horizontes no universo da animação. Prova disso é que o estúdio se esqueceu de trabalhar um dos elementos básicos de um longa-metragem: a história. O filme é pura exuberância visual. Conteúdo que é bom...
A impressionante seqüência inicial, quando um ovo de iguanodonte é levado de seu ninho na Flórida - passando pelas planícies da Venezuela e pela costa da Austrália -, adianta que o novo título traz efeitos visuais nunca vistos. A produção de quase US$ 200 milhões combina magistralmente imagens de paisagens naturais com personagens desenvolvidos por computação gráfica.
Representação minuciosa
O mais surpreendente é a interação dos dinossauros animados com os cenários reais. Graças a efeitos sofisticados, o espectador acompanha boquiaberto a perfeita sintonia dos animais com o ambiente: eles têm sombras, mergulham nas águas e levantam nuvens de poeira. Jurassic Park, de Steven Spielberg, também deu vida aos dinossauros em meio a locações realistas usando computadores, mas o resultado de Dinossauro é único.
Aqui por mais que as imagens evoquem o real, há uma atmosfera mágica que envolve todo o produto. No título dirigido pela dupla Ralph Zondag e Eric Leighton percebe-se a preocupação em encher os olhos do público, recorrendo tanto ao esplendor visual das paisagens naturais quanto à representação minuciosa dos dinossauros. Detalhes como a textura da pele, escamas e, em alguns casos, pêlos impressionam pelo realismo.
Animais humanizados
Outro fator que distancia Dinossauro da produção de Spielberg é a movimentação graciosa dos animais. Até porque aqui a idéia não é botar medo na platéia. Pelo contrário. As criaturas têm expressões faciais que as aproximam dos humanos - uma característica comum dos animais nas produções do selo Disney. E, para não quebrar a tradição do estúdio que sempre confere personalidade às suas criações animadas, aqui os dinossauros ainda falam.
Quando eles abrem a boca, aliás, começam os problemas. Os diálogos são excessivamente banais e a história soa repetitiva. Preocupada demais com o deleite visual, a equipe de Dinossauro simplesmente remoldou o argumento de "Tarzan". Sem mesmo considerar que a trama ainda está fresca na cabeça do público infantil, seu principal alvo.
O roteiro, ambientado há 65 milhões de anos, enfoca a trajetória de Aladar (com voz de D.B. Sweeney na cópia legendada e Fábio Assunção a versão dublada). Este iguanodonte é separado de sua espécie (ainda dentro do ovo) e criado em ilha paradisíaca por família de lemuróides (mamíferos primatas). Apesar das diferenças físicas, ele parece não ter dificuldades de entrosamento. Afinal, sua mãe adotiva teve o cuidado de ensinar o dinossauro a odiar carne.
Trama previsível
Depois da apresentação do protagonista, a história ganha um pouco de emoção com uma arrasadora chuva de meteoros - uma seqüência visualmente deslumbrante. Com a destruição da ilha, Aladar e os poucos lemuróides que sobraram são obrigados a se deslocar para o continente. Eles se juntam então a um grupo de dinossauros à procura de novas terras para acasalamento. O bando é liderado pelo mal-humorado Kron (Samuel E. Wright e Leonardo José), o personagem que faz as vezes do vilão na história.
A partir daí, a trama é excessivamente previsível. No caminho, Aladar se apaixona pela primeira fêmea de sua espécie que encontra (Julianna Margulies em inglês e Malu Mader em português). E o herói ainda encontra tempo para defender os interesses das criaturas fracas e oprimidas, incluindo duas dinossauras idosas dubladas por Hebe Camargo e Nair Bello na versão nacional.
Enfim, a inadequação do personagem criado fora de seu mundo abre espaço para mais um blablablá Disney sobre "a união faz a força". Pelo menos, desta vez, o roteiro teve compaixão dos adultos que têm de acompanhar as crianças às salas de cinema. Finalmente foram cortados aqueles enfadonhos números musicais.
(Elaine Guerini/Agência Estado)
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