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Trama de "O Caminho para El Dorado" promete cativar os fãs de ação
Se você já viu a animação clássica dos Beatles, O Submarino Amarelo, por um momento poderá pensar que O Caminho para El Dorado propõe um retorno às cores psicodélicas da obra-prima de George Dunning. As primeiras imagens do desenho da Dreamworks que batem na tela propõem uma explosão de cores embalada pela música de Elton John na versão original (nas cópias dubladas, quem canta é Maurício Manieri). O Caminho para El Dorado, de Eric "Bibo" Bergeron e Don Paul decola lindo, bom de ver e ouvir.
A animação é a nova menina dos olhos das grandes empresas de Hollywood. A Disney nunca deixou de produzir e ainda mantém a hegemonia do gênero, mas cada vez a Fox, a Warner e agora a United International Pictures investem em desenhos animados. O Caminho para El Dorado leva jeito de agradar às crianças (é uma aventura movimentada) e com certeza não desagradará a seus pais.
Eldorado, ao longo do tempo, tornou-se sinônimo de delícias e riquezas. O país imaginário da América meridional inspirou diversos filmes. Já nos anos 40, Tyrone Power se juntou às tropas de Cortez para conquistar o México em O Capitão de Castela, de Henry King. Entre outros filmes e diretores, Werner Herzog tratou do assunto, nos anos 70, em Aguirre, a Ira dos Deuses e Carlos Saura se debruçou sobre o mito, nos 90, com o seu Eldorado, inédito nos cinemas brasileiros.
Antes deles, Irving Lerner cavou mais um palmo da sua sepultura ao adaptar a peça de Peter Shaffer, A Real Caçada do Sol, nos anos 60, se bem que, nesse caso, o vilão era Pizarro e o cenário a conquista do Peru. Lerner era idolatrado pelo próprio Gláuber Rocha, que amava Uma Vida em Pecado (Studs Lonigan), sua bela estréia na direção. Nem o roteiro do grande Philip Yordan ajudou a salvar a "Caçada", que também se baseava na existência de uma mítica terra do ouro na América do Sul. Eldorado chega agora à animação.
É a história de dois aventureiros, Miguel e Túlio. Há ecos de O Homem Que Queria Ser Rei, a história de Rudyard Kipling que John Huston transformou num belo filme com Sean Connery e Michael Caine como a dupla de aventureiros adorada como deuses num distante país do Oriente. Miguel e Túlio vão parar na caravela que traz Cortez para o Novo Mundo.
Considerados clandestinos, são postos a ferros. Fogem com o cavalo do conquistador e chegam a uma terra luxuriante na qual identificam os signos de um mapa que roubaram na Espanha e que indica o caminho para o lendário Eldorado. Confundidos com deuses, entram na disputa entre o rei e o sacerdote, que quer usar os estrangeiros para promover um banho de sangue.
Tempo de felicidade
Miguel e Túlio inicialmente só pensam em apropriar-se dos tesouros de Eldorado. Entra em cena uma pequena trapaceira, uma nativa que também só sonha fugir de Eldorado com seu quinhão do ouro. Torna-se cúmplice dos dois. Mas enquanto Túlio se envolve com a pequena e tenta seguir adiante com o plano, Miguel encontra em Eldorado uma possibilidade de vida diferente de tudo o que fez antes. Encarna o papel de Deus - um Deus benévolo que veio instituir não a sangrenta era de Jaguar, mas um novo tempo de felicidade.
A disputa com o sacerdote chega a limites intoleráveis. Ele é banido da comunidade e vai parar aos pés de Cortez, a quem identifica como o deus sanguinário que veio punir seus inimigos. A história (com maiúscula) confirma que Cortez foi mesmo esse demônio exterminador, submetendo os astecas ao fio de sua espada durante a sangrenta conquista do México. Liderado pelo sacerdote o conquistador avança sobre a cidadela de Eldorado. Chega no momento em que Miguel e Túlio se estão separando. De fundo, há uma balada bem no estilo de Elton John, que diz que amigos não precisam dizer adeus.
Como boa produção americana voltada para o público infantil (o segmento básico dos desenhos animados), O Caminho para El Dorado assume uma atitude politicamente correta e a dupla se sacrifica, ou pelo menos sacrifica seu ouro, para salvar Eldorado.
Atraente
Um desenho como Dinossauro certamente impressiona pela tecnologia de ponta que faz com que o espectador se sinta realmente transportado à época antediluviana. Mas a história é fraca, permeada pelas tolices de sempre das produções da Disney. O Caminho para El Dorado é mais atraente. Esse é um raro desenho atual em que você não tem de ficar só falando da técnica mas também tem uma história para comentar.
Uma história e seus personagens
Miguel Túlio, Chel, o chefe e, claro, o cavalo de Cortez, que rouba suas cenas. É uma das lições da Disney que o desenho da Dreamworks não deixa de absorver - a importância das figuras secundárias, quase sempre um bichinho ou objeto que ajuda a incrementar a ação. O que serve de bola na cena do futebol é uma delícia.(Luiz Carlos Merten/Agência Estado)
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