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Havia a expectativa de uma grande polêmica na apresentação do júri do 53º Festival de Cannes. Afinal, o delegado-geral Gilles Jacob escolheu para presidente de Cannes 2000 ninguém menos do que o mais polêmico cineasta francês da atualidade. Luc Besson não é apenas o diretor francês que flerta com Hollywood, realizando filmes de US$ 100 milhões, como O Quinto Elemento e Joana D'Arc. Ele também é um magnata que, na França, acaba de produzir Taxi 2, uma comédia que está pulverizando os recordes de Asterix. A pergunta de jornalistas de todo o mundo era a mesma: o que um diretor tão comercial tem a ver com um festival como Cannes? Besson disse que não está na presidência do festival na expectativa de promover o diálogo de Cannes com o grande público. Acrescentou que os filmes não são feitos só para atingir grandes platéias ou bater recordes, mas também disse que não existe espetáculo sem espectador. Um filme precisa ter o seu público, mesmo que seja pequeno. Não é o caso de contabilizar audiências. O cinema que ele quer ver em Cannes e espera premiar é aquele que o surpreenda e abra uma janela para a compreensão deste mundo atual em acelerado processo de transformação. Personalidades Um jornalista oriental queria saber qual a qualificação dessas pessoas para julgar filmes vindos da Ásia, que este ano compõem o bloco mais numeroso. Nicole Garcia disse que não existem fronteiras na arte e, se decidiu virar diretora, foi porque se apaixonou, ainda jovem, pelos filmes do japonês Yasujiro Ozu. Todo o mundo comunga da mesma idéia de que, nessa área de globalização, falar de fronteiras e nacionalidades é um tanto obsoleto. O importante é o desafio que os artistas, no limiar do novo século, têm de enfrentar - como contar de maneira diferente as mesmas histórias? Ou como buscar novas histórias? Apesar da esperada polêmica na apresentação do júri, na realidade, se esse júri causou alguma surpresa, foi por revelar-se singularmente apático. Todos muito polidos, educados, cheios de boa vontade, mas também um tanto burocráticos na maneira de encarar as atribuições de um júri importante como o de Cannes. No ano passado, o júri presidido por David Cronenberg, atribuiu a Palma de Ouro a um filme experimental e densamente humano como Rosetta, dos irmãos Dardenne, da Bélgica. Este ano, o festival mal está começando e ainda é cedo para fazer qualquer tipo de previsão sobre quem poderão ser os vencedores. Mas Besson e sua turma juram que vão julgar sem preconceitos nem partis pris. O cinema que querem premiar é aquele que mais fale ao seu coração de jurados e espectadores. Cannes 2000 coloca-se, assim, sob o signo de uma emoção que o júri promete procurar nas próximas duas semanas.
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