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Cannes: Entrevista com o ator-vilão Gene Hackman



O telefone do agente de Gene Hackman sempre toca quando Hollywood precisa de um vilão de credibilidade. O ator de 70 anos, quase 40 de carreira, construiu nas telas uma imagem de homem durão, que contrasta com a sua personalidade amável. "No fundo, sou um cara tímido e sossegado", disse o ator, que circulou hoje por Cannes para promover seu último filme, Under Suspicion, no qual encarna um homem acusado de estuprar e assassinar uma garotinha.

"Os tipos que interpreto nunca são seres humanos agradáveis, mas isso não foi planejado. Simplesmente exerço uma habilidade que desenvolvi com os anos e parece convencer as pessoas", contou o ator, que escapou do corre-corre nas escadarias do Palácio dos Festivais depois que o alarme de incêndio foi acionado por engano, atraindo policiais e provocando histeria entre alguns convidados para a prestigiada sessão de gala.

Quando Hackman chegou ao Théâtre Grand Lumire, para a sessão especial (sem caráter competitivo) de Under Suspicion a situação havia sido contornada. Os principais trechos da entrevista exclusiva que o ator concedeu à Agência Estado, em uma cabana do Hotel Du Cup, em Antibes, um bairro afastado da badalação de Cannes. "Não é à toa que vivo em New Mexico (EUA), onde me distraio pintando meus quadros abstratos. Sou um pouco anti-social e não gosto de viver rodeado de atores. Eles são mais palatáveis quando você os toma em doses homeopáticas."

De onde vem essa imagem que você passa de homem durão? Os anos que você passou na Marinha têm algo a ver com isso?

Gene Hackman - Não sei. Talvez isso venha da rejeição acumulada ao longo dos anos, principalmente quando eu era jovem e tentava a carreira de ator em Nova York. Quanto mais você ouve "não", mais forte fica. Mas eu não reclamo. Por ter sido difícil, eu valorizo muito mais o que tenho hoje.

Há em sua filmografia algumas comédias, como Em Nome do Jogo e A Gaiola das Loucas. Seria para quebrar um pouco esta imagem autoritária?

Hackman - Pontuo minha carreira com algumas comédias para treinar a minha habilidade de fazer rir. Mas faço isso com mais freqüência no teatro. As peças em que atuo na Broadway são geralmente comédias. Mas tanto no palco quanto no set de filmagem, o que importa realmente é fazer papéis interessantes do ponto de vista do ator. Faço qualquer papel, mas admito que prefiro os filmes dramáticos, carregados de tensão e conflito.

No ano passado, Sean Connery esteve em Cannes divulgando o seu filme com Catherine Zeta-Jones. Este ano, seu personagem também faz par romântico com uma mulher bem mais jovem (a bela Monica Belluci)...

Hackman - Acho que os roteiros de Hollywood simplesmente representam a natureza humana. Os homens gostam mesmo de mulheres jovens e atraentes. Se é certo ou errado, eu não sei. Eu sou suspeito para falar. Minha mulher atual também é mais jovem que eu. É uma pianista clássica japonesa que cuida muito bem de mim.

Com a sua experiência em cinema, nunca considerou dirigir um filme?

Hackman - Já tive alguns projetos. Eu comprei os direitos de "O Silêncio dos Inocentes", por exemplo. Seria o produtor e provalmente o diretor. Mas mostrei aos meus filhos e eles não gostaram. Acharam o filme muito violento. Então desisti.

Em função da credibilidade que você invariavelmente traz aos filmes, já se sentiu carregando uma produção nas costas?

Hackman - Não. No início de um trabalho, às vezes, você percebe que o projeto não era bem aquilo que você tinha imaginado. Muitos atores se protegem. Apenas cuidam de si mesmos, sem se importar se o filme vai funcionar no conjunto. Eu não sou assim.

Com o acúmulo de experiência, não sente por vezes que sabe mais de cinema que o diretor?

Hackman - Não. Porque não tenho conhecimento da parte técnica. Mas muitas vezes sinto que sou capaz de dar muito mais do que a cena pode aguentar. Dependendo do projeto, dou sugestões ao diretor. No set, tento ser amigável com todo mundo, sem abrir mão da minha privacidade. Mas sou contra uma atmosfera muito familiar no local de trabalho. Assim você perde um pouco daquela tensão necessária. Quando as pessoas não têm muita intimidade, a cena funciona melhor. (Agência Estado)

 

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