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Mesmo sendo um dos atores negros mais requisitados de Hollywood, principalmente quando o personagem exige ar de respeitabilidade, Morgan Freeman acumula papéis de coadjuvante. Depois de contracenar com Jessica Tandy em Conduzindo Miss Daisy, com Tim Robbins em Um Sonho de Liberdade e com Brad Pitt em Seven, ele agora esquenta a cena para Gene Hackman, protagonista de Under Suspicion - exibido no 53.º Festival de Cinema de Cannes, em caráter não-competitivo. "Não me importo em contribuir com uma cena que não é minha. Sempre dou tudo, não gosto de me proteger só porque o meu nome não é o primeiro a aparecer nos créditos", contou o ator, de 63 anos, em entrevista exclusiva, concedida no luxuoxo Hotel Majestic, no boulevard de la Croisette. Em Under Suspicion, ainda sem data para estrear no Brasil, Morgan encarna um policial no encalço de um poderoso advogado (Hackman), suspeito de assassinato. Os papéis de policiais sempre lhe caem muito bem. Você prefere interpretar os homens em busca de justiça? Morgam Freeman - Não faço questão de ser herói. Simplesmente esses papéis me pareceram mais extraordinários. Não há roteiros muito bons disponíveis e, como gosto de trabalhar, seleciono aqueles que julgo trazer maior profundidade. Stephen Hopkins comentou que a sua presença sempre dá um upgrade nos filmes, principalmente de ação. Como faz isso? Freeman - Não sei. Só posso dizer que sempre procuro encontrar uma justificativa para o meu personagem estar em cena. Quando leio uma frase em um roteiro sem qualquer ligação emocional, não vejo motivo para interpretá-la. Se a cena exige ação e tensão, melhor. Os espectadores sabem quando estão sendo manipulados, eles reconhecem imediatamente quando você não está sentindo o que a situação sugere. Você está no elenco do inédito "Rendez-vous With Rama", uma produção de ficção científica, gênero que alguns atores consideram inferior. Qual a sua opinião? Freeman - Isto porque eles nunca tiveram a chance de atuar em um. O filme é baseado em livro de Arthur C. Clarke, autor cuja obra também inspirou "2001 - Uma Odisséia no Espaço". O roteiro gira em torno de uma força alienígena que os humanos não conseguem ver. É extraordinário. Poucos atores negros fazem parte do cinema mainstream. A maioria é acolhida pela televisão americana. Por quê? Freeman - Não sei. Mas é verdade que a TV está cheia deles, sejam atores veteranos ou da nova geração. No cinema, quando o assunto não exige que o ator seja negro, Hollywood quase sempre acaba escalando os brancos. É assim que funciona. Eu raramente tenho a oportunidade de contracenar com atores negros. Uma exceção se deu em "Nurse Betty", comédia de humor negro que está inclusive na competição oficial aqui em Cannes. Chris Rock e eu trabalhamos juntos no filme (dirigido por Neil Labute, de "Seus Amigos, Seus Vizinhos"), o que foi muito divertido. Mas minha participação é pequena. Faço um assassino. Está vendo? Eu nem sempre sou o cara bonzinho! Até hoje Sidney Poitier é o único negro a ganhar um Oscar de melhor ator (os demais vencedores eram coadjuvantes). Denzel Washington teve a chance este ano, mas perdeu. Algum comentário? Freeman - Eu prefiro não comentar o Oscar, especificamente. Acho que sempre haverá alguém que merecia levar o prêmio e não levou. Se quisermos fazer disso um caso político, é possível. Mas eu prefiro não acreditar em barreiras. Não gasto o meu tempo pensando nas coisas que não vou conseguir porque outras pessoas têm controle sobre determinados assuntos na minha vida. Algum papel já foi criado especialmente para você? Freeman - Não que eu me lembre. Até porque não acho isso possível. O roteirista terá escrito algo baseado em outros personagens que eu já fiz, o que é um engano. "Um Sonho de Liberdade" é um bom exemplo. O prisioneiro que eu interpretei deveria cair nas mãos de um ator irlandês. Se alguém escrever especialmente para mim, talvez acabe me insultado.
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