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Cannes: "Eu, Tu, Eles" conquista o público na mostra paralela



Destinado a grandes platéias, Eu, Tu, Eles, de Andrucha Waddington, que passou hoje para a imprensa, não participa da competição em Cannes, mas foi bastante aplaudido pelo público, que se divertiu com a história da personagem interpretada por Regina Casé. Poderia chamar-se "Dona Darlene e Seus Três Maridos". É a história de uma mulher que vive com três maridos no alto sertão nordestino. O público riu nas horas certas e muitos jornalistas destacavam o inusitado da situação, na saída da projeção do filme, que está na mostra paralela "Un Certain Regard".

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    Já houve um princípio de vaia, após a exibição oficial de Estorvo, no domingo à tarde. Foi sufocado pelos aplausos do público presente à sessão no palais. Ruy Guerra gostou da recepção. "É um filme difícil, imaginava que seria recebido de maneira mais fria", disse o diretor no domingo à noite, na festa realizada no Hotel Martinez. Estavam todos lá. Guerra, o produtor Bruno Stroppiana, Chico Buarque, autor do romance, e também o secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés, o diretor pernambucano Paulo Caldas (de Baile Perfumado e O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas) e muitos outros convidados.

    Um dos entusiastas de Estorvo é o cineasta argentino Fernando Solanas. Ele concorda que Guerra não fez um filme para grandes platéias, mas destaca o rigor da mise-en-scne, a beleza da fotografia. "É brilhante", resume.

    Surpresas - O 53.º Festival International du Film segue seu curso com algumas surpresas. Se estivesse em competição, Lista de Espera seria, com certeza, um dos melhores filmes da mostra principal. Mas o novo filme do cubano Juan Carlos Tabío participa da mostra "Un Certain Regard". O filme é ótimo. Tabío co-dirigiu com Tomás Gutiérrez Alea dois dos maiores sucessos da história do cinema cubano- Morango e Chocolate e Guantanamera. Acerta a mão em Lista de Espera, que dirigiu sozinho. Jorge Perugorría e Vladimir Cruz (ambos de Morango e Chocolate) lideram o extenso elenco.

    É a história de um monte de gente que tenta pegar um ônibus numa rodoviária do interior. O ônibus tarda, as pessoas começam a conhecer-se. Quando chega a notícia de que o ônibus está avariado, surge a proposta de consertá-lo. A princípio, as pessoas reagem dizendo que não, mas logo se mobilizam para ajudar. É uma metáfora sobre a situação de Cuba, claro. O país enfrenta todo tipo de dificuldade, mas a solidariedade da população é um antídoto contra a crise. Os cubanos têm fé na ilha. Essa mesma idéia transparece no documentário Cuba Feliz, do francês Karim Dridi, que também passou fora de concurso, na "Quinzena dos Realizadores".

    Dridi segue a trilha de Wim Wenders em Buena Vista Social Club e também faz um filme sobre a musicalidade dos cubanos. Ele quer mostrar que a música é fundamental no cotidiano desse país. Revela uma atitude diante da vida. Para isso conta a história de um músico de rua que atravessa o país, saindo de Havana para ir ao Oriente cubano, onde estão as fontes musicais de Cuba. O documentário é inferior ao de Wenders, mas o CD, desde hoje em todas as lojas da França, é pura festa para os ouvidos. Nota 10.

    A maior surpresa desse festival, até agora, veio da Rússia. Quem viu Táxi só tem motivos para desconfiar do diretor franco-russo (russos de ascendência francesa) Pavel Longuine. La Noce (O Casamento) reabilita Longuine e revela um talento que se diria inexistente. É, como conta o título, a história de um casamento. Um rapaz ama uma garota, ela lhe propõe, na base do cara ou coroa, que se casem. Ele topa imediatamente.

    Acontece todo o tipo de coisa durante os preparativos da festa. Durante ela, o noivo é preso, acusado de roubo. Entra em cena um novo-rico cercado de guarda-costas. Representa a máfia que hoje domina a Rússia. O filme é rico em metáforas sobre o país que se reconstrói. E apresenta o casal mais bonito desse festival. Marat Bacharov e Maria Mironova são tão lindos que chegam a emocionar. Por meio deles, Longuine faz sua aposta no futuro da Rússia pós-comunista, um país em busca de identidade, que sonha com uma nova era de liberdade e prosperidade.

    Depois dessa sensível lição de cinema e vida que veio da Rússia, a expectativa, hoje, era o filme que seria apresentado à noite. Taboo, que será distribuído no Brasil pela Pandora, é a bomba que o japonês Nagisa Oshima promete lançar sobre Cannes. Após o escândalo de O Império dos Sentidos, nos anos 70, o cineasta volta com uma história que trata de homossexualismo entre samurais. As fotos do ator que faz o samurai jovem - um tipo completamente andrógino - estão estampadas em outdoors ao longo de toda a Croisette, mas o que importa é o protagonista, o samurai mais velho, interpretado por Takeshi Kitano.

    Ele chegou a Cannes no sábado e, no domingo, um grupo de privilegiados pôde assistir a um trecho de cinco minutos do filme que ele roda nos Estados Unidos (Brother). Os cinco minutos prometem. Kitano, passada a viagem iniciática de Verão Feliz, volta ao universo de violência e ternura de Hani-Bi - Fogos de Artifício. (Agência Estado)

     

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