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"Eu, Tu, Eles" apresenta um retrato emocionante da vida no sertão brasileiro



Dos longas-metragens que representam o Brasil em Cannes, Eu, Tu, Eles é o que melhor desenha a cara do País nas telas. O filme, com exibição oficial amanhã (16) dentro da mostra paralela "Un Certain Regard", foi bem recebido na sessão de hoje, exclusiva aos jornalistas credenciados do 53.º Festival de Cinema.

O diretor Andrucha Waddington apresenta um retrato verdadeiro e emocionante da vida no sertão.

Inspirado em fato real passado no interior do Ceará, Eu, Tu, Eles conta a história de uma mulher corajosa que dribla o machismo nordestino vivendo com três maridos sob o mesmo teto. Na pele da protagonista Darlene, Regina Casé minimiza a característica veia cômica, aproximando-se do personagem com extrema delicadeza. Com seu jeito manso e aparentemente submisso, ela consegue tudo o que quer de Lima Duarte, Stênio Garcia e Luiz Carlos Vasconcelos.

"Quando vi a reportagem no "Fantástico" fiquei fascinado com essa poligamia às avessas. Estamos acostumados com as histórias dos homens com várias mulheres. Mas nunca o contrário", contou o diretor, que recebeu imprensa e convidados em coquetel realizado hoje no terraço do Hotel Noga Hilton, com vista panorâmica do boulevard de la Croisette. Somando Estorvo, filme nacional concorrente à Palma de Ouro, e Woman on Top, produção americana com ação ambientada parcialmente na Bahia, Eu, Tu, Eles é o terceiro longa rodado no Brasil a chegar à Riviera Francesa nesta edição do festival. E o que melhor "vende" o País. Em "Estorvo", uma jornada esencialmente alucinógena de personagem que circula pelo Brasil, Cuba e Portugal, nem sempre é fácil reconhecer as cenas ambientadas no País.

Woman on Top, selecionado para a mostra "Un Certain Regard", não passa de cartão postal. Corresponde à imagem folclórica que os estrangeiros têm do Brasil, carregando nos estereótipos.

Sertão
Quando Waddington concebeu Eu, Tu, Eles, o segundo longa de sua carreira (depois de Gêmeas, atualmente em cartaz), não esperava que o projeto despertaria interesse no mercado internacional. Mas antes mesmo de estar concluído, o filme teve seus direitos de distribuição comprados pela Columbia no Brasil e pela Sony Classics para o exterior.

"Sempre pensei em fazer um filme sobre o Brasil para o público brasileiro. Talvez tenha sido justamente esse desejo de fazer um trabalho extremamente fiel à nossa cultura que ajudou o título a ir mais longe", comentou Waddington, que subirá amanhã a escadaria do Théâtre Claude Debussy para acompanhar, ao lado de Regina Casé, a exibição de Eu, Tu, Eles (Moi, Toi e Eux, em francês) para convidados e público, sem caráter competitivo.

"Esse filme me deu vontade de redimensionar a minha carreira. Daqui para a frente, vou investir mais em cinema", disse Regina Casé, que se inspirou em "todas as mulheres nordestinas" que conheceu circulando pelo Brasil com seu programa de TV. "A única coisa que fiz foi trocar de lado. Essa mulher é uma somatória de tantas outras que operam milagres no Nordeste".

O milagre de sua personagem é o de conquistar a felicidade ao administrar uma situação insólita: administrar a convivência entre o marido rabugento (Lima Duarte), o meigo (Stênio Garcia) e o bonitão (Luiz Carlos Vasconcelos). "As pessoas já sofrem tanto com a vida dura que levam no sertão que situações como essa são resolvidas da maneira mais simples possível. É como a mulher que, ao saber da morte da vizinha, acolhe os filhos da outra automaticamente. E eles passam a ser seus. Uma coisa que só deve acontecer mesmo no Brasil". (Agência Estado)

 

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