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Cannes: Entrevista com Uma Thurman



Com quase 1,85 m, cabelos loiríssimos e ar de sofisticação, Uma Thurman desponta como a musa de Cannes 2000.

Desde que chegou à Riviera Francesa, a atriz de 30 anos é a mais requisitada por fotógrafos e jornalistas. Não somente por ser uma das poucas beldades de Hollywood a pisar no balneário até o momento, mas por estrelar dois longas-metragens selecionados para esta 53ª edição do festival de cinema. Filmes que confirmam seu talento dramático - principalmente para produções épicas.

"Quando era mais jovem, eu não sabia o que queria. Por isso tentei gêneros diferentes, como se eu fosse uma boneca que o dono puxa daqui e puxa dali. Hoje já sei o que me satisfaz: dramas em que eu possa administrar forte carga emocional", disse a atriz, que concedeu entrevista exclusiva em uma mansão em Antibes, a 40 minutos de Cannes.

Apesar de o local contar com várias mesas cobertas ao redor da piscina, a atriz preferiu sentar na grama, sob um sol de mais de 30 graus ("como crianças no parque").

Usando blusa azul claro, calça pantalona branca e óculos com lentes amarelas, a atriz falou da breve carreira de modelo, do marido - o ator Ethan Hawke, que conheceu nas filmagens de "Gattaca", da filha Maya Ray, de dois anos, e principalmente das últimas escolhas cinematográficas. Nos dois trabalhos exibidos em Cannes, ela coincidentemente interpreta mulheres torturadas por amores impossíveis.

Em "Vatel", filme de Roland Joffé que abriu o festival, sua personagem é obrigada a dormir com o rei Luís XIV, enquanto seu coração bate por um artista (Gérard Depardieu). Em "The Golden Bowl", título de James Ivory que concorre à Palma de Ouro, Thurman tem um caso complicado com Jeremy Northam, o marido de sua enteada, na Inglaterra do início do século. "Pode-se dizer que sou uma viajante do tempo".

"Vatel" e "The Golden Bowl" reforçam o filão épico em sua filmografia, onde se destacam papéis em "Ligações Perigosas", "Henry & June", "Les Miserables", etc. As personagens contemporâneas não te estimulam?

Uma Thurman - Na maioria das vezes não. Acho que são poucos os filmes ambientados nos dias de hoje que trazem mulheres fortes. Nos últimos tempos não tenho tido vontade de atuar em um filme convencional, usando jeans, por exemplo. Quando leio esses roteiros não sinto a minha imaginação instigada. Com "Pulp Fiction" e "Batman" foi diferente porque essas produções souberam criar seus universos estranhos. No geral, a imagem da mulher sofre de uma homogeneização no cinema. Acho que Hollywood não quer que elas sejam complexas. Até porque a maioria dos filmes é sobre homens. As mulheres só dão um colorido à história.

Você acaba de fazer dois filmes na Europa. Não é um risco ficar longe de Hollywood?

Acho que tudo na vida é um risco. Até mesmo não arriscar. Porque assim você corre o risco de murchar e morrer. Tento ir onde o trabalho me entusiasma. É um experimento. As pessoas dizem que há muitas fórmulas e regras em Hollywood. É verdade. Mas, ao mesmo tempo, se você segui-las religiosamente, a indústria também perderá o interesse em você.

Seja dirigida por Quentin Tarantino ou James Ivory, você mantém um certo mistério nas telas. Isso é intencional?

Mais do que um estilo ou uma técnica, isso vem das escolhas que faço. Eu prefiro um material mais sutil, desafiador. Algo que seja misterioso para mim também. Acabo sempre optando por mulheres estranhas, individualistas, contraditórias.

Como foi sua experiência como modelo, no início da carreira?

Fui modelo por muito pouco tempo e tenho de dizer que não me senti muito à vontade na profissão. Fiz esse tralalho apenas por alguns meses, aos 15 anos. Com 16, já fiz o meu primeiro filme. Foi um acidente, como cair em uma piscina. Mas gostei da brincadeira que não quis mais sair da água.

Como é ser casada com outro nome de Hollywood, você falam muito de trabalho em casa?

Meu marido é muito verborrágico (risos). Falamos muito sobre tudo. O fato de termos a mesma profissão nos ajuda a entender melhor o outro. Em tempos de desafio, quando um está muito ocupado, o outro segura as pontas na casa.

O que a maternidade mudou em sua vida, do ponto de vista profissional?

Mudou o jeito de eu encarar o trabalho. Até então a minha profissão era o meu único refúgio e a minha única fonte de conforto. Achava que o trabalho era a única coisa que poderia realmente corresponder ao meu amor na mesma medida. Hoje, não é mais assim. Depois que minha filha nasceu, eu também mudei o meu jeito de encarar as coisas de que tinha medo. Agora, faço tudo o que me aterroriza.

Como você administrou filmes mal sucedidos como "Os Vingadores" e "Até as Vaqueiras Ficam Tristes?"

Da mesma forma quando percebo que uma cena não está funcionando, quando a direção é ruim ou quando o meu personagem não tem justificativa para estar em cena: flutuando. Tento sair de mim. Procuro criar um distanciamento entre o que é culpa minha e o que não é.

Vendo você passar pelo tapete vermelho para as sessões de gala, tive a impressão de que você estava gostando de toda a pompa. Estou errada?

Não. Isso faz parte do jogo. E admito que é divertido. As aparições públicas em Cannes ou mesmo no Oscar sempre deixam as pessoas que põem dinheiro nos filmes felizes, assim como o público, que às vezes passa horas no local esperando você chegar. Encaro a situação como outro papel que interpreto. E estaria mentindo se dissesse que não me divirto. (Agência Estado)

 

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