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Cannes: Asiáticos escandalizam e surpreendem no festival
Se o evento tivesse terminado ontem, China e Taiwan teriam de repartir prêmios


Se o 53º Festival International du Film tivesse terminado ontem, os asiáticos teriam feito a festa. Os dois melhores filmes da competição, até agora, são da China (Devils on the Doorstep, de Jiang Wen) e de Taiwan (Yi-Yi/A One and a Two, de Edward Yang). Teriam de repartir todos os prêmios - filme, direção, ator.

Sobraria, apenas, para o filme Bread and Roses, de Ken Loach, o prêmio de melhor atriz, para a extraordinária Elipidia Carrillo, responsável pela cena mais emocionante desse festival, quando ela confessa à irmã que teve de se prostituir para conseguir dinheiro para levá-la do México aos EUA. Mas teria de sobrar um prêmio também para outro asiático - o japonês Nagisa Oshima.

Gohatto (Taboo) é um dos filmes mais impressionantes da competição. Mas é difícil saber se é um filme do qual se gosta, realmente, ou se ele desperta uma admiração um pouco fria, como o teorema perfeito que é.

Oshima fez um filme de uma lógica implacável. É fácil e até sensacionalista definir Taboo como uma história de amor entre homens ou um filme sobre homossexualismo no meio dos samurais. O filme é isso, claro, mas é muito mais. A milícia de samurais de Taboo constitui um mundo fechado nas próprias regras. Elas são subvertidas pela chegada desse garoto que representa a beleza e que desperta a paixão obsessiva dos homens do clã, fazendo com que eles se matem entre eles. A beleza, segundo Oshima, é destrutiva e mortal em Taboo.

Na coletiva, o cineasta explicou que o tema surgiu como uma alternativa possível depois que ele não conseguiu tornar viável o filme que pretendia fazer sobre outra relação homossexual - a de Rodolfo Valentino, o latin lover por excelência do cinema americano nos anos 20, e do japonês Sessue Hayakawa, que fazia carreira em Hollywood. Oshima jura que não fez Taboo só para escandalizar. Há cenas pesadas de sodomia, mas o cineasta acha que elas são necessárias para o relato.

Ele lembra que "Império dos Sentidos", com suas cenas de sexo explícito que fizeram sensação aqui em Cannes nos anos 70, continua um filme meio maldito.

Foi proibido, há pouco tempo, de passar na Coréia, quando o país se abriu para os filmes japoneses. Oshima afirma não temer o homossexualismo como tema dramático. "Todo agrupamento de homens no cinema - em filmes de guerra, de samurais ou de westerns - comporta sempre um elemento homossexual, que as pessoas só não vêem se não querem."

O plano final de Taboo é um dos mais belos desse festival. Takeshi Kitano, identificado nos créditos somente como Beat Kitano, despedaça a cerejeira com um golpe de sabre. É um símbolo da derrocada do mundo dos samurais. O curioso é que, no mesmo dia em que passou o filme de Oshima, em concurso, também foi exibido, fora da competição, Crouching Tiger Hidden Dragon, de Ang Lee, com Chow Yun-fat. Um filme de kung fu, elevando o método oriental de luta à condição de uma das mais belas artes. Ang Lee criou uma elaborada coreografia da violência, mas fez um filme que subverte as regras do gênero porque nele as mulheres encarnam virtudes tradicionalmente representadas pelos homens nesse tipo de aventura.

Ator-fetiche
Coragem, honra, força - a luta é entre mulheres, aparecendo Yun-fat, o ator-fetiche de John Woo na sua fase em Hong Kong, como o mestre dessas heroínas endiabradas.

Às 3 da tarde, ontem, aqui em Cannes, houve um frisson especial no público presente ao palais. Gregory Peck chegou para a coletiva em sua homenagem, após a exibição do documentário Conversation with Gregory Peck, de Barbara Kopple. Há mais de 20 anos ela fez outro documentário de forte apelo social, Harlan County. E, há dois ou três anos, acompanhou Woody Allen na turnê européia de sua banda, fazendo Wild Man Blues. Barbara dirige agora sua câmera para Peck. O filme possui uma estrutura um tanto convencional, à base de entrevistas e cenas selecionadas de filmes do astro.

Mas é bonito. Peck conta como conheceu a mulher, Veronique, uma jornalista francesa que foi entrevistá-lo em Paris. Estão juntos há quase 50 anos.

Embora more há mais de 40 numa mansão aqui perto, na Cote d'Azur, ele não fala francês. Lembrou o glamour da velha Hollywood, quando começou a trabalhar na Metro. "Chegava ao estúdio e via aquela garotinha linda, Elizabeth Taylor; um dia me apresentaram uma deusa, Ava Gardner; era glamouroso e divertido, trabalhar, por tudo isso, era um prazer."

Lenda de Hollywood
Ele ganhou o Oscar por "O Sol É para Todos", de Robert Mulligan, nos anos 60, mas prefere falar da colaboração com Henry King, Raoul Walsh e John Huston, que define como "os mestres". Esse homem fez história. Os aplausos que recebeu, de pé, foram o reconhecimento a uma carreira que faz parte da lenda de Hollywood.
(Agência Estado)

 

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