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Cannes: entrevista com a atriz Holly Hunter



Apesar do Oscar na estante, conquistado com o desempenho em "O Piano", Holly Hunter procura não se deixar seduzir pelos orçamentos milionários de Hollywood. Seus dois últimos trabalhos, que acabam de ser apresentados em Cannes, refletem sua preocupação em manter o ecletismo na carreira, envolvendo-se em projetos menos comerciais. O único inconveniente é que quanto mais independente o filme, menos dinheiro no bolso do ator.

"Eu nunca trabalhei por tão pouco em toda a minha carreira", contou a atriz, referindo-se a "Things You Can Tell Just by Looking at Her", filme do estreante Rodrigo García, filho do escritor Gabriel García Marquez, selecionado para a mostra "Un Certain Regard". Na produção, que também atraiu nomes como Glenn Close, Cameron Diaz e Calista Flockhart, Holly Hunter interpreta uma gerente de banco que passa a ouvir os conselhos de uma mendiga. "O roteiro é incomum na sua forma de discutir a natureza humana e o comportamento feminino. Como papéis assim simplesmente não aparecem no cinema mainstream, resolvi não me preocupar com o aspecto financeiro", disse a atriz, em entrevista exclusiva, concedida no espaço Un Certain Regard Terrasse, com vista para o mar.

Nesta 53.ª edição do Festival de Cannes, a atriz também foi vista em um dos concorrentes à Palma de Ouro: "O Brother Where Art Thou?", em que interpreta a mulher de um presidiário fugitivo (George Clooney). "Trata-se de mais um filme de baixo orçamento, mas não pude resistir ao convite dos irmãos Coen, com quem trabalhei em "Arizona Nunca Mais". Eles são geniais", comentou. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Morando em Hollywood, como faz para não ser conduzida pelo dinheiro?

Holly Hunter - Minha prioridade é não repetir personagens ao longo da carreira, mesmo que isso signifique ganhar bastante dinheiro em um projeto e quase nada no outro. Para que isso dê certo, para que eu possa ser dona das minhas escolhas, preciso ter condições de trabalhar quase de graça de vez em quando. Então, tento manter o meu nível de vida estável, sem extravagâncias. Mesmo assim, não posso reclamar. Minha vida é muito boa.

Como Rodrigo García conseguiu juntar nomes de peso em seu filme de estréia?

Porque o roteiro é fantástico e nós sabíamos que seria difícil um estúdio maior bancar o filme por ser um projeto pequeno e introspectivo. Por outro lado, sabíamos que Rodrigo teria o controle e que faria o filme do seu jeito. Como acreditamos que o resultado seria algo especial, não nos importou o fato de ele nunca ter dirigido antes.

Além de Rodrigo García, você já rodou com outros cineastas não-americanos, como o sueco Lasse Hallström, a australiana Jane Campion e o canadense David Cronemberg. Tem reservas com os diretores de seu país?

Acho que os estrangeiros estão mais interessados nos seres humanos e principalmente em retratar como as pessoas são de verdade. Já os filmes americanos estão mais voltados ao roteiro e à ação. E isso me incomoda muito. Tudo gira em torno de "quem vai morrer agora" e "o que vai acontecer depois". Além disso, são os homens que conseguem os melhores papéis no cinema mainstream. Sempre quando aparece alguma coisa fascinante é para um ator.

Como você conseguiu desenvolver uma carreira tão eclética?

Depois que o ator chega a um determinado ponto, é possível dizer o que ele é capaz de fazer. Se você analisar sua filmografia, seus créditos dizem muita coisa. Como eu sempre tive consciência disso, escolhi e ainda escolho cuidadosamente. Rejeito muita coisa por não considerar estimulante.

Você geralmente consegue papéis de mulheres fortes, apesar da aparência frágil...

Eu me considero uma pessoa forte. Ser baixinha nunca me limitou as opções. Até porque muito raramente o elenco é escolhido baseado no tamanho dos atores. O público nem sabe a altura dos atores. Eu mesmo não sabia que Uma Thurman era tão alta. Eu a conheci aqui em Cannes e fiquei impressionada. Ela deve ser mais alta do que a maioria dos homens com quem trabalha.

No ano passado você veio a Cannes para julgar (Holly Hunter era uma das juradas). Como foi voltar este ano à situação original, em que o seu trabalho é avaliado?

Eu estou muito mais acostumado com a situação em que me encontro hoje. Este é o meu quinto ano em Cannes, onde venho desde 1987. O júri é que foi uma experiência diferente e até mesmo divertida. Pela primeira vez pude ver todos os filmes e senti que fazia parte verdadeiramente de toda essa maratona.

A entrega da Palma de Ouro a Rosetta foi uma das mais polêmicas dos últimos anos. A escolha foi difícil?

Não. Foi unânime.

Quanto tempo dura a colheita de um Oscar? Existe um prazo em que ele faz realmente diferença na vida de quem o ganha?

O efeito Oscar tem a duração de uns cinco anos. É nesse período ele muda a sua vida. Você consegue mais dinheiro, mais ofertas e ainda aparece com mais frequência nas listas mais concorridas de Hollywood. Só que a febre passa. O que fica é o incrível prestígio. E felizmente isso você carrega até o fim da vida. (Agência Estado)

 

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