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Ela não é exatamente bonita, pelos padrões convencionais de beleza, mas Regina Casé é tão exuberante que consegue conquistar quem quiser. Ela sabe que seu tipo é especial e, por isso mesmo, conta que teve de inventar formas de expressar-se - no teatro e na televisão. No primeiro, criou o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone; na segunda, programas como "Brasil Legal" e "Muvuca". Darlene, a personagem que interpreta em "Eu Tu Eles", não deixa de ser cria das mulheres que Regina conheceu (e com quem contracenou) em suas andanças pelo Brasil. O filme de Andrucha Waddington estréia amanhã em todo o Brasil. Promete e cumpre - uma história tanto mais surpreendente porque verdadeira, sobre uma mulher que vive com seus três maridos no alto sertão, contada com eficiência. Por eficiência, entenda-se aqui a verdade humana e ambiental com que Andrucha faz evoluírem na tela personagens e ambientes, a própria trama. O filme tem humor, mas não é uma comédia. A dramaticidade permeia a experiência de Darlene. Foi, aliás, a dificuldade que Regina admite ter encontrado para criar a personagem. Ela adora falar, gesticular, faz rir com naturalidade, sem nem precisar se esforçar. Teve de fazer um exercício de contenção, senão, em vez de Marlene (nome da personagem real) ou Darlene, seria Regina Casé em cena. Eu Tu Eles foi exibido no Festival de Cannes, em maio. Integrou a programação da mostra "Un Certain Regard". Ganhou um prêmio, uma menção. Regina estava lá. Foi ovacionada no fim da sessão oficial. As européias acharam o filme feminista. Ela acha que não é. Uma de suas preocupações, revela, foi não fazer de Darlene uma supermulher. Procurou fazê-la exatamente como as nordestinas que conheceu no Brasil Legal - mulheres que não se deixam abater pelo sofrimento e tocam a vida enfrentando (e vencendo) adversidades. Tão grande está sendo o sucesso de Regina no papel que ela ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Kárlovy-Vary, na República Checa. "Um troféu enorme, todo de vidro, muito bonito", conta, acrescentando que terá de construir um móvel para abrigá-lo em sua casa. Regina não fez tanto cinema quanto gostaria. Diz que a carreira ia bem quando ocorreu o cataclisma da era Collor. Ela encontrou outro meio na televisão, mas nunca se esqueceu do cinema, que lhe ofereceu papéis marcantes em Tudo Bem, de Arnaldo Jabor, e Os Sete Gatinhos, de Neville D'Almeida, para citar apenas dois (e embora não se possa comparar o primeiro filme, ótimo, com o segundo, bem menos logrado, apesar da origem em Nélson Rodrigues). Na TV, até por causa da propaganda eleitoral, ela está dando um tempo no "Muvuca". O programa saiu do ar, a Globo queria que voltasse após as eleições. Regina prefere levar as coisas em banho-maria até o ano que vem. Quer renovar-se na TV e para isso, conversa com Guel Arraes e Jorge Furtado. E tem projetos para o cinema, também, agora que retomou o gosto. Quer filmar com o marido, o curta-metragista Estevão Pantoja, do premiado Nelson Sargento. Culpa-se porque ele abandonou o cinema para dirigir o "Brasil Legal". Os projetos incluem um filme sobre o avô nordestino, um músico tão ligado às raízes que fazia carne-de-sol na sacada do apartamento em que vivia, no Rio. Acima de tudo, Regina quer contracenar, no cinema a exemplo do que faz na TV, com anônimos. "Guel e eu temos um projeto, mas é prematuro ficar falando sobre ele."
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