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Lima Duarte acredita que não era a primeira opção do diretor Andrucha Waddington para interpretar o turrão Osias. "Ele me convidou poucos dias antes do início da filmagem e ficou surpreso quando me viu de barba, o que acabou incorporado ao personagem", comenta o ator, que também não esperava participar do filme - dias antes, aceitara atuar em Palavra e Utopia, 38º trabalho do diretor português Manoel de Oliveira, que vai concorrer no Festival de Veneza, cidade para onde o ator viaja no dia 30. "A barba era justamente para interpretar o Padre Vieira." O que parecia não certo, porém, resultou em uma grande parceria. "No início, pensei que Eu Tu Eles não passaria de uma comédia de costumes e eu teria mais um personagem baiano para a minha galeria", conta Lima, percebendo, já em pleno sertão, que o diretor manifestava uma certa insegurança. "Mas, a partir do dia em que Andrucha me chamou e disse que já sabia que filme iria fazer, senti que o projeto decolava." De mera comédia de costumes, o trabalho ganhou densidade e universalidade. Tornou-se um filme instigante, que acompanha o espectador depois da sessão. Mais seguro, o diretor trabalhou cuidadosamente as interpretações dos atores. "Ele cortou algumas piadas da Regina Casé e impediu que eu repetisse os cacoetes de televisão", lembra Lima, confiante que o ambiente influenciou decisivamente nas atitudes do diretor. "O clima, a argila, a visão ao mesmo tempo desoladora e bela do sertão, a realidade, enfim, tocaram o Andrucha, que voltou diferente para o Rio de Janeiro." Aos 71 anos e com um currículo de 50 novelas e 32 filmes, Lima Duarte surpreendeu-se com a relação amistosa entre Andrucha Waddington e o diretor de fotografia de Eu Tu Eles, Breno Silveira. "Foi uma parceria perfeita; nunca vi um fotógrafo interferir tanto (e com o consentimento do diretor) durante uma filmagem", comenta. "Normalmente, se trata de uma relação de amor e ódio, mas, ao final, acredito que o Breno poderia também ter assinado a direção." Lima identifica as imagens do filme como um trabalho colorido e em animação do fotógrafo Sebastião Salgado. "Há muita intensidade nos olhares, algo difícil de se notar nos filmes brasileiros", comenta o ator, satisfeito com a força interpretativa que conseguiu para seu personagem. "A especialidade de Osias é a de ser provedor: ele construiu a casa, enquanto a Darlene construiu o lar; ele tem isso de bonito, constrói casas com as mãos, taipa por taipa."
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