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Fernando Cony Campos realizou nos anos 70 um filme chamado "Ladrões de Cinema". Era a história de meninos do morro que roubavam o equipamento cinematográfico de alguns gringos e saíam filmando. A metáfora era clara. Traduzia, como estética política, o que deveria ser a reação do cinema brasileiro ao imperialismo de Hollywood. Você é capaz de não acreditar, mas com Ana Carolina ocorreu o inverso - os gringos, ou um gringo, seqüestrou o roteiro dela, pediu resgate e tudo. É uma história louquíssima. Dava filme - que Ana mesma, agora que se sente liberada para contar histórias, deveria fazer. Senão um longa, pelo menos um curta. Tudo começou há mais de dez anos, em janeiro de 1990, quando "Amélia" ainda se chamava "Páscoa em Março, Fome e Mortaço". Hoje em dia Ana tem três micros no escritório de sua produtora, mas na época havia escrito o roteiro de "Amélia" à mão, do próprio punho. "Atualmente, encontra-se um digitador em cada esquina, mas naquela época quase não havia essa figura." Ana tentou arranjar alguém que digitasse o roteiro. Nenhum amigo possuía indicações para lhe dar. Ela resolveu procurar num jornal de serviços ("O Balcão"). Encontrou o anúncio de alguém que se oferecia para esse tipo. Foi na casa dele, "um muquifo" em Copacabana. Não se preocupou em tirar uma cópia xerox do roteiro. Levou o original, mesmo. Coincidentemente, saiu no jornal, por aqueles dias, que ela havia recebido uma verba para a realização de "Páscoa em Março". Passaram-se os dias, Ana tentava falar com o digitador e nada. O telefone, mudo. Um dia ela recebeu um telefonema. O sujeito anunciava o seqüestro do roteiro e exigia resgate. Se Ana não pagasse, ele ameaçava picotar, queimar, destruir o original, enfim. Ana conta que foi ao advogado. Tentaram negociar, não deu certo. Já em desespero, ela procurou o secretário de Segurança do Rio, que achou uma temeridade o que Ana havia feito. Com dois delegados e quatro viaturas participando da operação, foram fazer uma campana em frente da casa do acusado. Passaram-se as horas, finalmente ele apareceu. Foi preso e o roteiro, que mantinha dentro de uma bolsa, escondida num armário foi recuperado. A polícia descobriu então que o afro-americano Michael Armstrong estava clandestino no Brasil. Era aidético, mas Ana nem gosta de falar nisso, com medo de estimular preconceitos. Mais sério é que o americano era procurado pela Justiça dos EUA, acusado de assassinato. Ele chegou a ameaçar de morte a diretora. Mas deu tudo certo e o seqüestro do roteiro de Ana teve final feliz.
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