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Exibido em Veneza filme de Stephen Frears


O diretor Stephen Frears

Mais dois filmes deram seguimento hoje à mostra competitiva do 57.º Festival de Cinema de Veneza: Platform (Zanthai), um interminável chinês de 3h13 de duração, e Liam, do inglês Stephen Frears. O primeiro não deixa de ter interesse, apesar da duração excessiva para o que tem a contar. O segundo é mais uma prova da maestria de Frears, diretor capaz de construir uma estrutura dramatúrgica sólida, trabalhando com poucos elementos e situações que beiram o clichê - mas apenas beiram.

A história, tratada com rigor dickensiano, fala de uma família católica irlandesa, vivendo durante os anos 30. O protagonista é Liam, um garotinho de 7 anos, gago e atormentando pelo rígido catolicismo em que é criado. A família leva vida confortável, até ser atingida pela depressão econômica. O pai perde seu emprego e todos começam a passar necessidade.

Frears consegue manipular com desenvoltura o material que tem em mãos. De um lado uma criança carismática, capaz de ganhar a simpatia do mais empedernido dos espectadores. De outro um drama social como pano de fundo, agravado por um catolicismo fanático, cego e pronto a criar bodes expiatórios em situações de crise.

Essas duas linhas se cruzam e se entrelaçam continuamente em Liam. Filme com criança como protagonista tende a dar certo, já se sabe. Basta lembrar do russo Kolya, ou de Central do Brasil, para ficar em exemplos recentes. Frears vai mais longe ainda nessa tradição do ator-mirim, e cita explicitamente O Garoto, de Charles Chaplin, matriz, confessada ou não, de todos esses filmes. São histórias que colocam a criança numa situação de crise da qual são protagonistas involuntários, obrigadas às vezes a assumir funções acima de sua idade, ou simplesmente testemunhando com olhos inexperientes um mundo adulto ensandecido. A criança é o ponto de vista privilegiado da inocência - daí seu valor como recurso narrativo, sem contar o potencial de empatia com o público.

Esse recurso pode ser usado com sabedoria ou cair na pieguice. Depende do diretor. Frears parece consciente de que está manipulando emoções no limite e por isso usa seus trunfos com senso de economia. O filme vale não apenas pela ternura que usa para abordar o fato humano, mas pelo retrato da classe operária inglesa, traçado com mão de mestre. A obra de Frears - pasme - foi produzida pela televisão inglesa. Conseguiu bela recepção da platéia em Veneza.

Se Liam" trabalha numa linha econômica, Zanthai parte para o excesso - pelo menos no quesito duração. O filme testemunha um período importante da história chinesa, os dez anos entre 1979 e 1989, quando o país começou a abrir-se para a economia de mercado. Em geral se registram esses fatos apenas a partir de números, sem mostrar o que está acontecendo com a população. Zanthai ocupa esse espaço. Segue uma trupe de jovens que apresenta um espetáculo de propaganda político por vilarejos do país. À medida que as mudanças vão acontecendo na China, a própria concepção do show se altera. E vão mudar também os hábitos e maneiras de ver o mundo. Zhantai, título que tem sido traduzido por "plataforma", é um sucesso do rock chinês dos anos 80.

Rock chinês, sim senhor, já que o que se discute aqui é a sobreposição da cultura pop aos cânones do livrinho vermelho do camarada Mao. Nesse sentido, o valor documental do filme é evidente. Fala de uma sociedade que se moderniza, e da dor que esse processo acarreta. Falta a ele impacto, diluído que é pela metragem excessiva. O realizador, Jia Zhanke, tem 30 anos de idade. Fala do que viveu.

Na parte, digamos assim, mundana do festival, há que se registrar o beijo na boca entre Julian Schnabel e Javier Bardem - respectivamente diretor e ator de Before Night Falls. O filme, um dos mais polêmicos apresentados até agora em Veneza, conta a história de Reinaldo Arenas, escritor homossexual perseguido na Cuba de Fidel Castro. Cineasta e ator posaram aos beijos para os fotógrafos porque possivelmente acreditam que isso ajuda na divulgação do filme. Além disso, Schnabel se obstina em passear pelo Lido com seu pareô. Tem conseguido o que quer - aparecer nos jornais e TVs.

E se enganava quem achou que a safra de astros e estrelas pop estava esgotada este ano. Mick Jagger e Claudia Schiffer são as mais recentes celebridades a desembarcar em Veneza. O roqueiro disse que veio ver alguns filmes, entre eles Liam, do seu compatriota Stephen Frears, mas também o mais recente Woody Allen, Small Time Crooks. A top model chega na condição de musa inspiradora de um curta-metragem de Nicolas Roeg, Sound, que está sendo exibido na mostra. (Agência Estado)

 

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