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Javier Bardem começa a romper fronteiras no cinema



Depois de ganhar experiência em filmes de Bigas Luna e Pedro Almodóvar, o espanhol Javier Bardem começa a cruzar fronteiras. O ator de 31 anos concluiu recentemente no Equador as filmagens de The Dancer Upstairs, sob a direção de John Malkovich, e passou a última semana na Itália promovendo Before Night Falls, filme de Julian Schnabel rodado em Cuba e selecionado para a mostra competitiva do Festival de Veneza.

"Estou pronto para ganhar o mundo. Só não quero ficar limitado aos papéis de traficante e latin lover", disse Bardem, que interpreta em Before Night Falls o escritor cubano Reinaldo Arenas, morto em 1990 - performance que o colocou entre os favoritos ao prêmio de melhor ator no festival italiano. Em The Dancer Upstairs, ele vive um destemido líder de grupo terrorista.

Em entrevista, Bardem falou dos novos trabalhos, da inevitável comparação com Antonio Banderas e até do Brasil, onde ele passou várias temporadas no início dos anos 90. "Tenho paixão por Búzios, onde cheguei a abrir um bar chamado O Destruidor."

Após trabalhar com dois diretores americanos, pensa em se lançar em Hollywood?
Depois desses dois personagens excepcionais, em Before Night Falls e The Dancer Upstairs, o que eu poderia fazer? Principalmente nos EUA, onde o meu biotipo me denuncia automaticamente como latino. Não digo que não quero saber de Hollywood. Mas acho difícil eles me oferecerem algo interessante. Gosto de dinheiro, mas não quero comprometer a minha carreira. Nos EUA, é mais provável fazer filmes independentes. Ou rodar em outros países de língua latina.

Incomoda a comparação com Antonio Banderas?
Não, acho normal. Só gosto de deixar bem claro que não sou tão ambicioso quanto ele. Ele foi para Hollywood seguindo um sonho, e eu imagino a dureza que deve ter sido. Quando chegou a Madri, vindo do sul da Espanha, Banderas até dormiu no chão do metrô. Hoje, dez anos depois, ele tem uma carreira promissora na indústria mais poderosa do mundo. Mas eu não acho que suportaria a pressão de ser astro. Quando você atinge esse estágio, tem de bancar a celebridade 24 horas por dia. Na Espanha, já perco a paciência. Não posso andar sossegado pelas ruas de Madri. Todo mundo me conhece.

É verdade que Julian Schnabel levou tempo para te convencer a aceitar o papel de Reinaldo Arenas?
É. Ele insistiu muito. Eu conheci Julian Schnabel há dois anos, no festival de San Sebastian. A princípio, eu disse não. Primeiro porque nunca quis fazer um filme político. Mas quando li o livro, fui tocado. O que aconteceu com Reinaldo Arenas, a perseguição que ele sofreu em Cuba, poderia se passar em qualquer outro lugar. Percebi então que o personagem me daria a oportunidade de aplicar tudo o que havia aprendido em meus filmes anteriores. Reinaldo tem de tudo: humor, amor, medo, sexo e desespero.

Você teve de emagrecer muito para o papel?
Dezoito quilos. Passei seis meses comendo só salada e peixe. Foi uma tortura, quase fiquei louco. Sempre fui um cara grandão. Aliás, esse foi outro aspecto que me deixou indeciso na hora de aceitar o papel. Como é que um cara como eu, com 100 quilos, pode morrer vítima de Aids? Mas Schnabel me convenceu que isso não seria problema.

Como foi rodar o filme em Cuba?
Desembarcar em Cuba foi decepcionante. Sempre simpatizei com o comunismo, mas, ao ver o regime de perto, percebi que ninguém faz milagre. Alguns dos sonhos dos comunistas são realidade, mas outros, grandes enganos. Mas a viagem foi uma intensa experiência profissional. Foi maravilhoso conhecer pessoas que tiveram contato com Reinaldo. Elas me ensinaram a falar como Reinaldo, a andar como ele e principalmente a lidar com a homossexualidade da maneira como ele lidava.

Como conseguiu o papel no filme de John Malkovich?
Também conheci Malkovich em San Sebastian, há muitos anos. Um dia ele me ligou convidando para fazer um filme. Explicou que estava escalando atores não muito conhecidos. Só que o projeto demorou anos para sair do papel. Ele não conseguiu financiamento em Hollywood porque os produtores queriam Nicolas Cage e Cameron Diaz para os papéis principais. Mas ele insistiu que eu fizesse o personagem, ao lado de Laura Morante. Por isso nós tivemos de esperar três anos para fazer o filme.

Tem planos de voltar a filmar com Pedro Almodóvar?
Por enquanto, não. Pedro geralmente conduz quatro ou cinco projetos ao mesmo tempo. Ele trabalha muito. E o que é pior: ele sempre prefere trabalhar com mulheres.

É verdade que você morou no Brasil?
Quando tinha 20 anos fui ao Brasil. Foi a primeira vez que eu viajei para o exterior. No primeiro mês, fiquei apavorado. Mas depois conheci pessoas incríveis e fiz ótimas viagens. Fui a Maceió, Natal, Recife, Manaus e Rio de Janeiro. Quando conheci Búzios, gostei tanto que resolvi montar um negócio. Então abri um bar lá e meu irmão foi me ajudar. Eu passava três ou quatro meses por ano no Brasil, enquanto meu irmão morava lá.

O negócio deu certo?
Sim. Só que nós gastamos tudo com bebidas e com mulheres.
(Jornal da Tarde)

 

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