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Apesar das diferenças culturais, das linguagens cinematográficas distintas e das problemáticas sociais, o júri de 57ª edição do Festival de Cinema de Veneza premiou, antes de tudo, filmes de denúncia, que convidam a lutar contra todo tipo de conformismo, em todas as latitudes. A cinematografia do Irã, que se confirmou este sábado como uma das mais vitais, valentes e inovadoras ao levar de forma merecida e unânime o Leão de Ouro pelo filme O Círculo, de Jafar Panahi, denuncia com rigor e maestria a opressão que sofrem as mulheres naquele país asiático. O cobiçado prêmio, concedido pela primeira vez a um cineasta iraniano, recompensa a nova geração de autores do Irã, formados pela escola do célebre Abbas Kiarostami e empenhados em mostrar ao mundo as contradições de um país enigmático para o Ocidente e regido pelo Islã. Duas histórias de denúncia protagonizadas por dois escritores latino-americanos, uma em Cuba e outra na Colômbia, também foram premiadas em Veneza, apesar das diferenças de conteúdo e estilo. Before night falls ("Antes que anoiteça"), do americano Julian Schnabel, baseada na biografia do escritor homossexual cubano Reinaldo Arenas, recebeu o Grande Prêmio do Júri, presidido pelo mito do cinema Milos Forman. Como um convite à solidariedade humana e ao compromisso social, diante do quadro desolador da cidade de Medellín, em plena decomposição moral, foi entregue a Medalha de Ouro do Senado italiano ao filme franco-colombiano La Virgen de los Sicarios, de Barbet Schroeder. De alguma maneira, os senadores italianos receberam como uma denúncia o cinismo narrado pelo filme, baseado no romance homônimo do escritor colombiano Fernando Vallejo. A premiação confirma o interesse europeu no conflito naquele país sul-americano. O filme ilustra o encontro entre um escritor profundamente céptico e homossexual com um jovem sicário de 16 anos, a partir do qual nasce um amor impossível, marcado por uma série de assassinatos gratuitos. Outro filme de denúncia, desta vez contra a intolerância religiosa e o fanatismo, ambientado entre as belas paisagens de Bengala, no coração da Índia, recebeu o prêmio especial pela direção. Uttara, do veterano diretor indiano Buddhadeb Dasgupta, descreve com imagens poéticas a impotência diante do ódio e o egoísmo em uma sociedade que se conforma com a violência. O prêmio de melhor roteiro foi para o belo filme sobre a máfia do italiano Marco Tullio Giordana, Cento Passi ("Cem Passos").
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