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Preste atenção no título. É real e metafórico. Viagens trata do deslocamento físico para descrever uma jornada emocional. Não uma, mas três, pois o filme de Finkiel assume o formato de um tríptico. Conta três histórias, as histórias de três mulheres na geografia que vai da Polônia a Paris e daí a Israel. Começa com a imagem de um ônibus parado diante de um cemitério judeu na Polônia e termina com a imagem de uma velha que espera outro ônibus, em Tel-Aviv, e sai de campo, desaparece da vista do espectador, com ele. É uma trajetória exemplar para desenvolver o itinerário do que não deixa de ser uma memória - a dos judeus da Europa Central que sofreram as agruras do holocausto (decisivo nas duas primeiras histórias), carregam suas cicatrizes e feridas, mas não abdicaram de viver. As mulheres chamam-se Riwka, Regina e Vera. A primeira viaja do cemitério judeu de Varsóvia para o campo de Auschwitz, confrontada com suas memórias e experiências. A segunda, filha de pais deportados, vive em Paris e sua tranqüilidade cai por terra com uma chamada telefônica e, logo, com a chegada de um homem que pode ser seu pai. A terceira Vera, reencontra Riwka em Tel-Aviv, olha da amurada para esse mar tão pleno de significados. Esse percurso no tempo e no espaço, a ligação entre Polônia, França e Israel, serve de suporte para uma reflexão sobre uma comunidade que possui uma língua, o iídiche, mas não necessariamente um território. É a história do povo judeu na sua grande viagem para o reencontro com as origens. Difícil não emocionar-se com esse filme, especialmente com a última história - a dessa Vera magnificamente interpretada por uma atriz que nem profissional era (Esther Gorintin). Finkiel absorveu as lições de Godard e Kieslowski. Faz um cinema que revela o mais profundo do ser - a anima, ou vá lá que seja, a alma. Vale comparar a maneira como ele filma Tel-Aviv com a cidade de Laços Sagrados (Kadosh), o forte e exigente filme de Amos Gitai. Enquanto Vera procura sua cozinha em Tel-Aviv, o olhar de Finkiel revela o que não deixa de ser um espaço nômade. Viagens é uma metáfora para o êxodo, esse tema judeu por excelência.
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