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Antes dele houve Medeiros e Albuquerque, Jerônimo Monteiro e Luís Lopes Coelho. Rubem Fonseca não inventou o policial à brasileira, mas foi com ele que esse tipo de literatura adquiriu sua carta de nobreza no País. "A Grande Arte" é um grande policial e um belo romance - melhor que o filme que dele tirou Walter Salles. Três anos depois Fonseca produziu outro policial - "Bufo & Spallanzani". Outro policial sim, e também um romance de aventuras, erótico, burlesco, picaresco, tudo isso, nada disso e muito mais, como escreveu um dos exegetas do livro, na época do lançamento. Bufo & Spallanzani está saindo do papel. Virou filme dirigido por Flávio R. Tambellini, que deve estrear no Festival do Rio BR, que começa quinta-feira(05). Será exibido no dia 14, integrando a Premire Brasil, que mostra só filmes brasileiros inéditos. Como tal, poderão habilitar-se aos prêmios em dinheiro que a Distribuidora BR, que patrocina o evento do Rio, vai dar com base na votação do público - R$ 200 mil para a melhor ficção R$ 100 mil para o melhor documentário, a título de incentivo à comercialização. Tambellini embarcou há quase um mês para os Estados Unidos. Foi para Nova York e de lá viajou para Los Angeles, para fazer a pós-produção (leia-se edição de som e e outros detalhes de acabamento). A BR é a principal patrocinadora do filme de Tambellini, por meio da Lei do Audiovisual. Estimulou-o a colocar Bufo & Spallanzani na mostra. O diretor não teme ser acusado de nada, caso seu filme venha a ser premiado. Afinal, quem vai escolher é o público. É um policial, esclarece Tambellini, mas não um policial americano, estruturado a partir daqueles códigos que Hollywood já banalizou e servem apenas para veicular tiros e patadas. Também não é um policial francês, metido a intelectual e alicerçado nos diálogos. Tambellini recebe a reportagem na sede da sua produtora, a Ravina, no Jardim Botânico. Logo na entrada há um cartaz do filme Ravina, de Rubem Biáfora, que seu pai produziu nos anos 50. Vem daí o nome da produtora. Tambellini pai foi produtor e diretor. Tambellini filho seguiu seus passos. São homônimos, exceto pelo R que o segundo usa como nome intermediário. Há quem o confunda com o pai, ele está acostumado. Como produtor, Tambellini tem seu nome ligado a diversos filmes, de A Ostra e o Vento, de Walter Lima Jr., a Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington (é sócio da Conspiração). Dirigiu um curta sobre Tim Maia, dois documentários (um sobre os mistérios de Paraty e outro sobre a Mata Atlântica, tal como é vista na música de Tom Jobim). Pensava estrear no longa com um argumento próprio. Como gostava do livro de Fonseca, terminou optando por Bufo & Spallanzani. "É um thriller psicológico", diz o diretor. "É seco" acrescenta. Diz que é de ação, mas sem ação, para diferenciar dos produtos de Hollywood. Não queria fazer uma cópia e menos ainda do livro de Fonseca, que os críticos já chamaram de romance da carpintaria perfeita, dizendo que o autor investe na trama do mistério policial para dar espaço a um texto refinado, repleto de humor corrosivo, com recursos à paródia e à ambigüidade temática. A trama, propriamente dita, acompanha o percurso do narrador Gustavo Flávio, pseudônimo literário de Ivan Canabrava. Homem de passado negro, mantém um caso com Delfina, mulher de um milionário. Ela é encontrada morta, no volante de seu carro. Entra em cena o investigador Guedes, personagem reincidente na obra de Fonseca, pois já apareceu no conto Mandrake, do livro "O Cobrador". Tambellini chamou a escritora Patrícia Melo para escrever o roteiro. Fonseca começou a palpitar e também ganhou crédito no roteiro. Tambellini fez a revisão do roteiro final dos dois, mexeu aqui e ali e a dupla fez questão de que ele também assinasse o script. A Distribuidora BR, o Banespa e o BNDES são os principais investidores da produção orçada em R$ 3 milhões. O elenco traz Tony Ramos, a quem Tambellini não poupa elogios, José Mayer, Isabel Gueron, Juca de Oliveira, Matheus Nachtergaele (o genial João Grilo de O Auto da Compadecida) Zezé Polessa, Maitê Proença, Gracindo Júnior, Milton Gonçalves, Otávio Augusto e Celso Frateschi. O filme não é linear, adverte o diretor, que chega ao Rio com a cópia definitiva debaixo do braço, às vésperas da exibição de Bufo & Spallanzini, no dia 14.
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