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Allen agora se preocupa em enxugar gastos de seus filmes



Woody Allen, quem diria, já perdeu os velhos costumes. Pela primeira vez, o cineasta está prestando mais atenção no orçamento de seus filmes. Tudo para acompanhar a inflação e a gangorra que se transformou o mercado de ações. Em seus últimos trabalhos, ele enxugou bem os gastos, perdeu colaboradores preciosos, deprimiu-se e resolveu mudar. Agora, sem mais vontade de depender somente de investimentos particulares, Allen despediu-se de sua colaboração com a produtora Jean Doumanian (que é casada com um dos irmãos Safra) e acabou de assinar um contrato que prevê a realização de três filmes com o estúdio de Steven Spielberg, o DreamWorks SKG.

E tem mais mudança. Neste ano, por exemplo, os nova-iorquinos não vão ver um filme de Allen no fim de outubro. Por vários anos, toda nova obra do diretor estreava nos primeiros dias frios do ano, uma marca registrada e requintada da chegada da estação outono/inverno. O último longa dele, a comédia Small Time Crooks, estrelada por Tracey Ullman, Hugh Grant e pelo próprio cineasta, foi lançada no verão, numa tentativa do estúdio DreamWorks, que comprou o filme depois de pronto, de usar um novo tipo de marketing: a venda de Woody Allen também para o público que lota os multiplexes no fim do ano.

Também em Small Time Crooks, o cineasta pela primeira vez em décadas interpreta um nova-iorquino pobre, que mora bem longe dos elegantes prédios da 5ª Avenida e usa um guarda-roupa que é uma mistura de jogador de truco com velhinho de Miami.

Há um desvio mínimo de estilo. Allen deixou de ver Nova York pelas lentes européias de dois de seus fotógrafos favoritos, o italiano Carlo Di Palma e o sueco Sven Nykvist. Tanto a fotografia de Small Time Crooks, quanto a de seu penúltimo filme - Poucas e Boas (Sweet and Lowdown), biografia do guitarrista de jazz dos anos 30 Emmet Ray, estrelado por Sean Penn, Samantha Morton e Uma Thurman - foi feita por um asiático: o chinês Fei Zhao. Allen decidiu contratá-lo depois de ficar maravilhado por seu trabalho em Laternas Vermelhas, do diretor Zhang Yimou.

Novidades não páram por aí. Allen também voltou a fazer um extra como ator em filmes de outros diretores. No ano passado, ele trabalhou com Douglas McGrath, que dividiu com Allen a autoria do roteiro da comédia Tiros na Broadway, de 1994. McGrath, com Peter Askin, assina a direção da comédia Company Man, cuja trama é ambientada durante a mal-sucedida invasão americana à Baía dos Porcos, em Cuba. Allen interpreta um agente da CIA e Anthony LaPaglia recria Fidel Castro, além do ator inglês Alan Cumming (da versão teatral de Cabaret) no papel do ditador Fulgencio Batista e do ídolo teen Ryan Phillippe como um bailarino russo inspirado em Nureiev.

Mas é em Picking Up the Pieces (Recolhendo os Pedaços), do cineasta mexicano Alfonso Arau, que Woody Allen tem participação maior. Nessa comédia de humor negro, o diretor interpreta um rancheiro que esquarteja a mulher (Sharon Stone, que, por sinal, fez sua estréia no cinema num filme de Allen, Manhattan) e enterra seus pedaços no deserto. Mais tarde, a mão da vítima aparece e fica sendo responsável por milagres na região.

Já, no plano pessoal, Allen, que é casado desde 1997 com Soon-Yi, filha adotiva de sua ex-mulher Mia Farrow com o maestro André Previn, adotou duas garotas no espaço de um ano: Bechet Dumaine Allen e Manzie Tio Allen, essa última em agosto, cujo nome de batismo é uma homenagem ao bateirista de jazz Manzie Johnson e ao clarinetista Lorenzo Tio, que foi o mentor de outro famoso jazzista, Sidney Bechet, já lembrado no nome da primeira filha do casal.

Infelizmente, toda essa nova fase na carreira e na vida pessoal de um dos mais importantes cineastas dos EUA passou alheia ao público brasileiro, especialmente para aqueles que não lêem revistas especializadas de cinema, publicações de fofoca ou que não tiveram a oportunidade de viajar ao Exterior nos últimos três anos. Nesse período, Allen, a exemplo do cineasta Spike Lee, foi completamente ignorado pelo circuito de cinema nacional e o público perdeu quatro filmes do diretor.

Mas agora todo esse tempo perdido será recompensado com a chegada de três de seus filmes. A partir de hoje, entra em cartaz em circuito comercial o badalado Celebridades (Celebrity), filme que Allen rodou em 1998 e que tem a participação de Kenneth Brannagh, Judy Davis, Leonardo DiCaprio, Winona Ryder, Melanie Griffith e Charlize Theron.

O público paulistano e carioca, por meio de duas mostras cinematográficas em outubro, vão ter a chance de conferir os outros dois filmes. A Mostra de Cinema de São Paulo exibe Poucas e Boas (Sweet and Lowdown), que valeu indicações para o Oscar de melhor ator para Sean Penn e de atriz coadjuvante para a inglesinha Samantha Morton. Já o Festival do Rio BR 2000 apresenta Picking Up the Pieces, filme de Arau. Só fica restando Small Time Crooks, que já está em processo de aquisição por um distribuidor nacional.

Celebridades, que está chegando com um atraso de mais de dois anos em relação ao lançamento americano, é uma sátira mordaz de Allen ao culto das celebridades pela mídia. Rodado em preto-e-branco, o longa começa com uma frase de apelo nos céus de Manhattan: "Ajudem-me!" O ator inglês Branagh, que resolveu assumir o estilo de Allen de interpretar e copiou - para o bem e para o mal - todos os maneirismos do diretor, fica com o papel principal, repórter especial de uma revista famosa. Como outros vários personagens da história, o jornalista Lee Simon tem um roteiro de cinema pronto, à espera de ser produzido. Sem nenhuma ética profissional, ele faz propaganda do script para seus entrevistados sem cerimônia, como é o caso de uma estrela de cinema indicada para o Oscar (Melanie) e um temperamental e mimado ídolo jovem (DiCaprio).

O jornalista acaba de se divorciar da professora Robin (Judy Davis), com quem foi casado por 14 anos. Enquanto ela não aceita bem a separação e vai tratar-se de uma crise de nervos num recanto católico no interior de Nova York (Mia Farrow fez o mesmo depois de se separar do cineasta), o jornalista embarca no demi-monde das celebridades e se envolve com uma top model (Charlize) e uma editora de livros (Famke Janssen). Mas é Robin quem vai emergir de seu retiro e virar uma verdadeira celebridade do mundo jornalístico.

Em Celebridades, Allen coloca DiCaprio para fazer uma cena inspirada num incidente real protagonizado pelo ator Johnny Depp, que destruiu uma suíte do caríssimo hotel Mark (onde Allen, por sinal, morou e gosta de falar com a imprensa) durante uma discussão com sua ex-namorada, a top model Kate Moss.

Outra cena inspirada na realidade (o caso Bill Clinton/Monica Lewinsky) é um encontro de Branagh e Melanie, jornalista e entrevistada, que não conseguem conter uma atração sexual mútua. Melanie, dizendo-se fiel ao marido, explica a Branagh que existe uma diferença entre o coito e o sexo oral. A reportagem do Estado conversou com Woody Allen sobre esse fenômeno moderno da mídia, a respeito de como ele lida com a própria fama e o fato de o diretor estar mais consciente da economia de seus filmes.

Estado - Por que o sr. decidiu abordar o fascínio pelas celebridades em seu filme?

Woody Allen - Porque esse é um culto que avança de geração para geração. Agora, por exemplo, nós fazemos parte de uma geração que não pode viver sem sua referência de celebridade. Tudo vira um grande circo, atualmente. Se um cirurgião plástico aparece em artigos da Newsweek ou da Time, se um clérigo aparece na rede CNN, eles vão virar celebridades instântaneas. A presença onipresente da TV e, num grau abaixo, a da mídia impressa, transforma cidadãos desconhecidos em pessoas célebres. Amy Fisher (a Lolita de Long Island), por exemplo, teve sua história contada em três telefilmes, um deles com Drew Barrymore. Hoje em dia, eles levam a câmera para dentro da corte onde é debatido se Charles Manson (assassino da atriz Sharon Tate) pode ganhar a condicional. É a Court TV, onde pobres pessoas passam por uma terrível agonia, ao vivo e em cores. A emissora está vendendo papel higiênico nos intervalos de um julgamento em que um coitado implora aos jurados pelo direito de viver.

Estado - Sendo um fenômeno de geração, o sr. acha que esse culto tende a diminuir?

Allen - Não mesmo. O noticiário das seis horas está sempre lutando contra uma desvalorização da notícia e procurando por coisas novas para preencher esse espaço vago. Eles sempre tentam agarrar um herói ou uma pessoa infame para transformá-los em celebridade. Os EUA são um país que adora o excitamento. Mas é um país que raramente se excita com a ficção. A população não vibra tanto com um musical da Broadway e sim com O.J. Simpson e Monica Lewinsky na TV. Tudo nesse país precisa ser real.

Estado - Como o sr. digere a sua celebridade?

Allen - É algo completamente surpreendente para mim. Sempre foi. No começo de minha carreira, eu era um escritor que vivia isolado num quarto. De repente, comecei a fazer performances de palco. E virei um sucesso imediato. Não sabia o porquê; não tinha idéia mesmo. Costumava fazer essa pergunta para o meu agente. `O que tenho que outra pessoa não tem? Por que eles querem me contratar?' Nunca entendi, mas sempre fui grato. (risos) Quando revejo os filmes que fiz com Diane Keaton no começo de nossas carreiras, penso que éramos dois idiotas. Mas o público se divertiu muito. Eu não poderia estar mais surpreso e feliz.

Estado - Nada mais apetitoso hoje para essa mídia voraz do que celebridades metidas num escândalo. O sr. já viveu o seu. Como acha que foi tratado?

Allen - A mídia sempre fez e faz o que quer, com qualquer um. Eu tive dois incidentes em minha vida em que a mídia foi incrivelmente generosa para comigo. Mas também levei muitas punhaladas. Em algumas vezes, a mídia decidiu fazer vista grossa para meus erros e foi maravilhosa comigo. Em outras situações, foi injusta, não aplicando a honestidade na apuração dos fatos. Ninguém consegue ter controle da mídia. O que procuro fazer é ser sempre honesto em minhas declarações e esperar que eles acreditem no que digo.

Estado - Em Celebridades, além de discutir a cultura dos famosos, o sr. lida com a insatisfação no casamento. O personagem masculino, por exemplo, que é vivido por Kenneth Branagh parece estar sendo punido por ter largado a mulher. Onde o sr. estava querendo chegar?

Allen - A insatisfação no casamento é problema universal. Alguns casam cedo como é o exemplo do personagem de Kenneth no filme. Aos 40, o cara começa a questionar a falta de novas experiências em sua vida. Eu queria mostrar o grande risco que você corre numa situação dessas. Ou você fica preso em seu casamento e experimenta uma insatisfação permanente ou você pode sair para a rua e ver o que acontece. Algumas pessoas têm um bom resultado, outras não. Mas toda essa decisão - de manter-se casado, de descasar ou tentar reavaliar uma relação - acarreta sempre muito sofrimento pessoal. Para mim, é um grande golpe de sorte encontrar uma pessoa que tenha os mesmos valores e interesses que você e ainda apresente uma compatibilidade sexual. Vira e mexe escuto algum amigo meu dizer: "Estou precisando trabalhar minha relação." Eu acho esse comentário um horror. Uma relação não pode ser entendida como um trabalho e sim como pura alegria.

Estado - Kenneth Branagh faz uma performance curiosa em Celebridades. É como se ele estivesse tentando imitar o sr. Todos os seus maneirismos foram aproveitados por ele. Pediu a ele para interpretar Woody Allen?

Allen - Não. (risos) Nunca pedi para ele fazer isso. Na verdade, escrevi para Kenneth um bilhete dizendo que, se eu fosse jovem como ele, nunca interpretaria esse papel. Escrevi esse personagem - e expliquei isso para ele no mesmo bilhete -, pensando numa pessoa mais atraente para interpretá-lo. Na verdade, quando estava criando o roteiro, eu tinha Alec Baldwin em mente. Achava que o jornalista Lee Simon precisava ser um homem bonito, tentando cair fora de seu casamento e aberto a experimentar algo diferente em sua vida. Kenneth pareceu-me atraente para as mulheres também, além de ter um grande intelecto. Ele deve ter ficado interessado em interpretar o personagem daquele jeito. Talvez tenha lido o roteiro e achado que eu queria que ele fizesse daquela maneira. Nunca pensei em interferir ou perguntar a razão daquilo. Estava feliz com ele me entregando a atuação. Sou um grande, mas grande admirador do trabalho de Kenneth. Minha única dúvida era se ele podia fazer sotaque de americano. Mas logo me mandaram uma cópia de um filme de Robert Altman (Gingerbread Man), em que ele faz um advogado sulista com muita precisão.

Estado - O sr. acabou de dizer que escreveu o personagem pensando em Alec Baldwin, mas acabou fechando com Branagh, o que deve ter provocado uma certa mudança no roteiro. E, sendo seus scripts extremamente pessoais, gostaria de saber se lida também com margens para mudanças, se acata sugestões de outros atores que possam sentir o personagem diferente?

Allen - Às vezes meus atores mudam um pouco, sim. Vez ou outra, um ator chega e tem uma contribuição melhor a fazer. Quando era mais jovem, eu protegia muito meus scripts. Se um ator chegasse e lesse o diálogo diferentemente do que havia idealizado, eu dizia: "Não, você tem de fazer desse jeito!" Mas depois fui acabar descobrindo que, muito freqüentemente, o jeito que eles queriam fazer era melhor do que havia escrito. E, em muitos casos, um processo mais orgânico para eles. Forçá-los a seguir uma regra seria um erro. Aprendi isso do jeito mais duro: depois de vários filmes. Agora fico mais relax com os atores. Apenas ocasionalmente tenho de fazer uma correção e dizer, "isso está muito longe do sentido do filme e vai ficar totalmente incoerente".

Estado - O sr. entrega a seus atores somente as páginas de diálogo correspondentes a seus personagens dentro da trama. Ninguém nunca reclama de ter apenas uma vaga idéia do que vem a ser o filme em sua totalidade?

Allen - Eles não se importam. Em casos como o de Leonardo DiCaprio e Winona Ryder, em Celebridades, eles tinham 20 páginas de diálogo. Então, eles não precisam de ler 120 páginas para visualizar as falas deles. Nunca nenhum deles me disse, "tenho de ler todo o roteiro". Gosto de manter meu filme quieto, sigiloso. Para mim, a melhor coisa é quando o filme estréia e ninguém sabe do que se trata. O público chega e julga a história pelo mérito próprio e não com o entusiasmo ou o desinteresse criado por uma publicidade prévia. Costumo manter esse sentimento imaculado o máximo que posso. Mas não é fácil porque todo mundo hoje em dia quer saber tudo sobre um filme antes mesmo de ele estrear. E se eles não sabem tudo a respeito da trama, eles inventam. E inventam impunemente. (risos) Tento manter um certo sigilo. É por isso que, muitas vezes, eu dou o título final para meu filme somente depois de ele pronto.

Estado - O sr. pode comentar a escolha de Leonardo DiCaprio?

Allen - Tomei conhecimento de Leonardo no filme As Filhas de Marvin. Diane Keaton, de quem sou muito próximo, está no filme e ela me convidou para vê-lo alguns meses antes da estréia. Eu disse a ela, "você está ótima, Meryl (Streep) também, mas esse garoto é maravilhoso! Nunca ouvi falar dele, mas esse garoto tem uma qualidade sensacional". E Diane respondeu, "sim, ele é um cara muito doce, mente legal e ótimo ator". Quando comecei a escalar meu filme, o nome de Leonardo estava entre os elegíveis para o personagem com outros jovens atores. Mas achei que ele seria o melhor e decidi fazer-lhe o convite.

Estado - Ficou surpreso com a fama súbita dele depois de Titanic?

Allen - Fiquei surpreso pela intensidade dessa fama. Mas não de todo surpreso pelo fato de ele ter sido elevado, em idade tão tenra, à categoria de ator principal. Leonardo é um cara lindo e um grande ator. Ele não é apenas o destaque do mês. O cara é um ator legítimo.

Estado - Em Celebridades, a personagem de Melanie Griffith faz uma referência que parece ser totalmente intencional ao escândalo de Monica Lewinsky e o presidente Bill Clinton. Ela diz para o repórter Kenneth Branagh quando está tentando seduzi-la: "Meu corpo pertence ao meu marido, mas o que faço do pescoço para cima é problema meu."

Allen - Existe um estranho fenômeno sexual nos EUA no momento. E não sou profundo o suficiente para fazer esse insight. Mas existe um insight a ser feito por alguém sobre as diferenças entre o coito e o sexo oral e como isso é visto e experimentado nesse país. Bill Clinton, no momento mais vexatório de seu escândalo, disse que o coito é diferente do sexo oral. Será? O que é mais engraçado é que, naquela época, várias pessoas que conheço defenderam para mim essa idéia também. Eu sei que, na maioria das vezes que você vê prostitutas dando entrevista na TV, elas sempre estão dizendo que a especialidade mais popular delas é o sexo oral. De alguma forma, a consciência sexual desse país está permeada com a idéia do coito ser uma coisa totalmente distinta. Não sei se isso é um reflexo do narcisismo da cultura ou o quê? Pessoas como Norman Mailer e Camille Paglia podiam escrever um grande ensaio sobre isso. Eles com certeza discutiriam melhor que eu.

Estado - Celebridades é apresentado em preto-e-branco. Por que o sr. resolveu filmar assim?

Allen - Não foi por ser mais barato. Filmar em p&b pode ser mais caro porque você tem de lidar com laboratórios especializados, que cobram uma boa grana para ficar aberto até mais tarde. Rodei assim porque é bonito e não por um sentido temático. Foi estritamente porque a maioria dos filmes que gosto é em p&b e eu tive a chance de trabalhar com o Sven Nykvist que é um dos maiores fotógrafos de p&b. Também adoro ver Nova York monocromática.

Estado - Em seus últimos filmes, o sr. passou a cortar custos em algumas áreas e, com isso, não foi capaz de manter a mesma equipe que sempre o acompanhou. A que se deveu isso?

Allen - A inflação fez o orçamento dos filmes subir muito. Se tivesse de rodar cena por cena de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa hoje, não gastaria mais US$ 4 milhões e sim US$ 20 milhões. Tenho ficado cada vez mais consciente em termos da economia cinematográfica. Meus filmes freqüentemente não estouram (risos) e, se puder encontrar um balanço econômico, fica muito mais coerente para as pessoas que investem dinheiro neles. Ninguém perde dinheiro com meus filmes, mas seria simpático tomar cuidado de fazer o dinheiro deles, pelo menos, retornar um pouco mais rápido. Estou falando dos EUA, é claro. Na Europa, a coisa é diferente. Os meus filmes fazem mais sucesso por lá. Mas se eu puder fazer um filme por US$ 2 milhões a menos, isso quer dizer que ele não terá de render US$ 6 milhões a mais para que o dinheiro do investidor retorne.

Estado - O sr. vem escrevendo grandes papéis para mulheres. Acha que está entendendo mais do universo feminino?

Allen - Bem, não acho que ninguém nunca vai entender as mulheres. (risos) Acredito que posso, por uma estranha inspiração, escrever sobre elas. Quando comecei a fazer scripts anos atrás, não podia criar personagens femininas. Tudo o que escrevia era sob o ponto de vista masculino. Sempre. A mulher era uma figura rígida, decorativa até. Mas depois, quando conheci Diane e a gente começou a namorar e depois a morar juntos, aquilo teve um efeito positivo em mim de alguma maneira, pois comecei a escrever melhor para personagens femininas. Primeiro para ela, depois em geral. Agora, acho que consigo criar ok.

Estado - Uma curiosidade. O sr. nunca compareceu à cerimônia do Oscar porque, religiosamente, toda segunda-feira, toca clarineta num pub de Nova York. Agora que a cerimônia do Oscar passou de segunda para domingo, o sr. pensa em finalmente ir?

Allen - Mas não é só pelo fato de tocar jazz que nunca fui ao Oscar. São vários motivos. Eu não gosto muito de voar. E são 3 mil milhas até Los Angeles. Também não curto esses eventos grandiosos. Quer dizer, não gosto de participar, mas adoro ver pela TV. Acho chato me vestir de black-tie. E meus colegas que sempre vão dizem que a festa é interminável. Mas a coisa que acho que ia me deixar mais deprimido é esperar pelo carro na saída. Imagina quanto pode demorar para o manobrista chegar com tanta gente saindo ao mesmo tempo? E se ele não achar o carro? (O Estado de S. Paulo)

 

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