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Muita gente saiu no meio da sessão de A Tônica Dominante. O filme de Lina Chamie abriu oficialmente a mostra Première Brasil, na sexta-feira à noite. Foi precedido pelo curta Pictures in the Park, de Evaldo Mocarzel. Os dois passaram fora de concurso. O curta foi bastante aplaudido no final. O longa de Lina (apenas 80 minutos) também recebeu mais do que aplausos protocolares. Os que ficaram, e também foram muitos, aplaudiram com intensidade. Não se deve fazer a Lina a ofensa de dizer que seu filme é exigente e difícil. Isso seria condenar A Tônica Dominante ao gueto. O cinema é que, com raras exceções, se vem banalizando por força da massificação imposta por Hollywood. Lina se graduou em música e filosofia (cum laude) na New York University. Fez mestrado na Manhattan School of Music. Morou 13 anos na Big Apple. De volta ao Brasil, foi instrumentista - seu instrumento, o clarinete. Tornou-se cineasta. Fez vários vídeos e um curta muito premiado, Eu Sei Que Você Sabe. Quando rodou esse último já tinha a idéia de A Tônica Dominante na cabeça. Foi uma rodagem complicada. O filme teve de parar muito tempo por causa do acidente com o ator Fernando Alves Pinto. É sobre a criação artística (e musical). Talvez não seja bem uma fábula, como o define a diretora, mas é uma metáfora. Divide-se em três partes, três dias divididos mais pela cor do que pela cronologia narrativa. Não é uma narrativa linear, nem pretende ser. Os três dias equivalem aos três movimentos de uma sonata. A estrutura de A Tônica Dominante é musical. O cinema usa o tempo como a música, Lina sabe disso. Mas o cinema também se realiza no tempo e no espaço. Há um plano emblemático - o protagonista caminha ao longo de uma rua. Segue em direção à claridade, ao som de muita música. Quantos minutos são? Três, quatro? É lindo. O tema do filme, esclarece Lina, está nessa cena. A caminhada para a luz. Ela usa muito a poesia, além da música. Mário Bandeira, João Cabral de Melo Neto, seu pai, Mário Chamie. A palavra contextualiza e conceitua a discussão sobre a beleza que está na essência do filme. A Tônica Dominante passou no Festival de Toronto. François Girard foi ver e gostou muito. Disse-a a Lina. É o diretor de O Gênio e Excêntrico Glenn Gould em 32 Curtas. Foi uma referência para ela. Seu filme é mesmo difícil e exigente. Mas será empobrecer-se, se o espectador não entrar nessa viagem.
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