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Estréia nesta quinta-feira o grande favorito ao prêmio BR, do Festival do Rio, na categoria documentário, O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas de Paulo Caldas e Marcelo Luna. O filme foi eleito pelo júri popular o melhor do festival É Tudo Verdade, venceu o Festival Internacional de Brasília, também eleito pelos espectadores, e foi muito elogiado pela crítica internacional após sua exibição no Festival de Veneza. Partindo da trajetória de um menino pernambucano de 21 anos que responde a mais de 44 processos por homicídio, o filme é um relato nada linear da vida na periferia das grandes cidades brasileiras. Helinho é um justiceiro conhecido como "pequeno príncipe" na comunidade. Mata, segundo ele, para defender a população da periferia das "almas sebosas", que seriam os verdadeiros bandidos. O diretor Marcelo Luna soube da história do rapaz pela imprensa e ficou assustado com a frieza e com a crueldade, mas com a inteligência e a ponderação que Helinho apresentou na entrevista dada ao jornal, onde ele dizia que "matar é como beber água". Eles foram ao presídio encontrá-lo e daí nasceu o O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas. Paulo Caldas, que já dirigiu O Baile Perfumado, conta que a preocupação da dupla era a de não transformá-lo num herói. "Nós inserimos outros personagens no filme que reagissem de outra forma à violência a qual estão submetidos. Daí chegamos aos rappers do subúrbio". Entra na história Garnizé, músico, 26 anos, componente da banda de rap Faces do Subúrbio, militante político e líder comunitário. O documentário vai comparando visões diferentes de um mesmo universo de violência e miséria. "Acho que o público gosta do filme porque ele tem uma estrutura muito próxima do cinema de ficção: personagens principais e secundários", explica Caldas. Marcelo Luna aprofunda a análise: "O Helinho por si só já é um personagem que parece fictício." No debate que precedeu a apresentação em Veneza, no mostra Novos Territórios, os europeus ficaram surpresos em saber que todos os personagens e histórias eram reais, segundo os diretores. A câmera é ágil e movimenta-se o tempo todo no intuito de integrar o espectador àquele ambiente variado, onde muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. A música do hip-hop atua como elemento político e dá um tom poético. "Quisemos fazer uma crônica da periferia, mostrar também como aquelas pessoas se divertem", conta Caldas. O clima é musical, mas a linguagem não é de clip, explica Marcelo Luna. Os planos são longos, o ritmo é calmo. "Quisemos fugir da exposição alucinada, deixar espaço para a reflexão do espectador". O filme deveria ter estreado em junho deste ano, mas por uma estratégia de exibição, eles decidiram lançá-lo em novembro, no Rio, São Paulo e mais cinco cidades ainda em estudo. O Rap do Pequeno Príncipe... não é um filme para jovens. Mas os diretores acreditam que este tipo de público será normalmente atraído pelo som do hip-hop e acham muito importante que os adolescentes assistam ao documentário: "É bom que seja gerado um debate sobre a situação da violência urbana que hoje é maior entre os jovens", diz Luna. Na estréia do filme, amanhã, às 11h, no Cine Odeon, o movimento hip-hop carioca invadirá a praça em frente ao cinema. Grafiteiros, skatistas, dançarinos e repentistas farão apresentações a partir das 10h30.
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