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"Selmasongs" junta experimentalismo à trilha


Ela parece uma
Liza Minnelli esquimó (AE)

Uma imigrante checa que, para escapar ao tédio do trabalho mecânico numa fábrica, imagina-se vivendo num filme hollywoodiano. Para fazer a trilha de seu próprio papel no filme de Lars Von Trier, a cantora islandesa Björk promoveu a fusão entre os sons de gnomo eletrônico que sempre caracterizaram sua carreira e as bandas sonoras típicas do cinemão convencional.

O resultado é Selmasongs (WEA), trilha em que ela muitas vezes parece uma Liza Minnelli esquimó cantando nas locações de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

O disco abre com Overture, uma orquestra triunfalista que clareia a visão para culminar com um zoom no ambiente de clausura e delírio que a trama pede. Depois, vem a esquisitíssima Cvalda, na qual ela canta acompanhada da classuda Catherine Deneuve.

Em seguida, em I've Seen It All, ela divide os microfones com Thom Yorke, vocalista e guitarrista do Radiohead, que também reparte com Björk sua ansiedade pelo escândalo controlado, pela ambivalência entre jogar-se de cara na vanguarda ou comprar uma roupa nova para ir à entrega dos Brit Awards.

"A noite negra está caindo", ela canta, em Scatterheart, introduzindo a canção como se fosse cantar um hino Disney, mas preparando o espírito do ouvinte para um eclipse solar súbito e cortante. Sombria, um tanto ambivalente, a trilha de Dancer in the Dark é a abertura de um pesadelo, mas também foge à própria tradição bjorkiana, oferecendo melodrama sinfônico em doses homeopáticas.

É o que ela reforça em In the Musicals, que parece bastante uma mistura de velhas canções folk com um sapateado tradicional da Broadway, enquanto ela canta um refrão familiar. "Você sempre está ali para me pegar", brinca a Dorothy dark. Os arranjos orquestrais, inventivos e nervosos, são de responsabilidade de Vincent Mendoza.

Na faixa seguinte, 107 Steps, ela simplesmente conta passos. Começa do cinco e, lá pelo 30, passa a cantar os números. A marcação aumenta, como se fosse agora um tambor marcial que conduzisse a um cadafalso imaginário.

Desde os primórdios de sua carreira, Björk flerta com o atonalismo e a abordagem teatral da música. Seu primeiro grupo, ainda na Islândia, o Kukl, já tinha essa ambição de unir a anarquia punk à vanguarda dos ruídos. Desde então, sua carreira tem sido uma variação ao redor desse epicentro.

Selmasongs não é uma exceção à regra. Com a diferença que se sustenta essencialmente pela imagem. Sobrevive sem ela, mas não é também tão sugestiva sozinha. Em alguns momentos, é até esquisito ouvir Björk cantando um tema tão objetivo quanto New World.

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(O Estado de S. Paulo)

 

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