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Leon Cakoff escolheu Palavra e Utopia, o mais recente filme do português Manoel de Oliveira, para abrir a 24ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A opção por um filme "difícil", em que os sermões do Padre Antonio Vieira são declamados pelos personagens, reforça a proposta do evento: a de abrir os olhos do espectador para os cineastas que transitam na contramão. Apesar dos 92 anos, Oliveira dá lição de ousadia. No filme, com exibição hoje às 21h, na Sala São Paulo, o diretor conta a história do religioso português do século 17, célebre pelos sermões que escreveu, valorizando a palavra - em uma época em que predominam as imagens. Nesse filme que concorreu recentemente ao Leão de Ouro em Veneza, a ação é subjetiva. Para apreciar a obra, Oliveira exige do espectador uma atitude parecida com a de quem lê um livro ou vê um quadro. Há quem compare a obra do diretor português com a de artistas plásticos, como Giotto ou Velasquez. E com razão. Oliveira constrói planos magníficos, em que os personagens lembram figuras retratadas em quadros. O ritmo de seus filmes também segue uma cartilha própria. O ritmo é lento, como se diretor não tivesse pressa de contar a história. Ou ainda como se ele respeitasse o ritmo natural da vida. Para quem só se abastece de produções hollywoodianas, onde a agilidade é a palavra de ordem, um filme de Oliveira pode ser uma experiência quase insuportável. Palavra e Utopia (uma co-produção entre Portugal / França / Brasil / Espanha), não é o melhor de Oliveira, que assina obras-primas como Viagem ao Princípio do Mundo (1997). Mas vale ser visto. Até para prestigiar o trabalho de Lima Duarte, que encarna o Padre Vieira já no fim da vida. Duarte procura resumir os 40 anos que o religioso passou na Amazônia esperando a morte - período em que ele sofreu uma degradação física, mas continuava atino no campo das idéias e da filosofia. Debate com diretor - Duarte encarna o personagem no fim do filme - depois que Ricardo Trepa vive o padre em sua fase jovem e impetuosa e Luís Miguel Cintra interpreta o religioso mais racional, representando o período em que ele viveu na Europa e enfrentou a Inquisição. Esta é a segunda homenagem que Oliveira presta ao Padre Antonio Vieira. O cineasta já lançou mão de um de seus sermões, da série dedicada a Santo Antônio, em Non, ou a Vã Glória de Comandar (1990). Oliveira, aliás, vem para abertura da Mostra, quando a organização espera receber cerca de 1.500 convidados na Sala São Paulo - onde a projeção de Palavra e Utopia será seguida de coquetel e de uma apresentação com Guga Stroeter e a banda Heartbreakers. Além do diretor, estão confirmadas as presenças dos atores Ricardo Trepa e Lima Duarte. Amanhã, Palavra e Utopia será exibido na Sala Uol de Cinema, às 20h. Após a sessão haverá debate com o diretor, o cineasta Julio Bressane e o professor da Unicamp, Alcir Tecora. Durante a Mostra, o filme será apresentado no dia 20, às 14 h, no Cinesesc, no dia 21, às 12 h, no Cinearte, no dia 22, às 21h10, na Sala Uol, e no dia 2 de novembro, às 18h20, no Cinearte.
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