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24ª Mostra: Documentário é irresistível convite para conhecer Fellini
Filme de Paquito del Bosco mostra o cineasta através de entrevistas


Para fãs de Federico, o filme é imperdível. Na verdade, Entrevista com Fellini: um Auto-Retrato Revelador, de Paquito Del Bosco, é indispensável para quem quer que ame a arte do cinema. Trata-se de um perfil de Fellini baseado em imagens de arquivo da RAI (Rádio e Televisão Italiana), emissora que seguiu a sua carreira do início, com Abismo de um Sonho, sua primeira direção solo até o final, com A Voz da Lua. Na Itália, a estréia do documentário foi acompanhada pelo lançamento do livro Le Favole di Fellini: Diario ai Microfoni della RAI, com a transcrição das entrevistas e um CD no qual se ouve a voz do cineasta em uma seleta de seus depoimentos à imprensa.

Fellini, como a maioria dos diretores de cinema, deu entrevistas a vida inteira. Faz parte da profissão, um métier charmoso, procurado pela mídia. Nem sempre falava de boa vontade, mas era homem dotado de senso de humor, que conseguia temperar uma exigência contratual com fina ironia. Além do sabor das tiradas de Fellini, aprende-se muito sobre a continuidade de uma carreira plenamente autoral.

Por exemplo, na entrevista concedida ao jornalista Carlo Mazzarella durante as filmagens de A Doce Vida, uma de suas obras-primas. Noite romana, diante da Fontana de Trevi, temperatura gélida, o que se deduz pelo sobretudo, chapéu e cachecol usados pelo diretor. O diálogo acontece pouco antes da entrada em cena de Anita Ekberg, no papel de uma diva americana que vem a Roma para rodar um filme. Mazzarella pergunta se Fellini continuará em sua linha auto-biográfica. Resposta: “Sim, é um pouco como a seqüência ideal de Os Boas-Vidas, isto é, Moraldo chegou à cidade, tornou-se um jornalista importante, fez carreira a seu modo. O filme é o relato de suas aventuras jornalísticas e de sua vida privada...” Em Os Boas-Vidas, Fellini faz o retrato (ficcional) de suas origens na província, em Rimini, e sua vontade de sair e fazer a vida em Roma.

Em outra ponta de sua existência, na última entrevista gravada, um Fellini que já recebeu seu terceiro Oscar, este pela carreira, esclarece seu relacionamento com Marcello Mastroianni, ator preferido e grande amigo: “Dizem que Marcello é meu alter ego, o que não é exato; eu é que sou o alter ego de Marcello, mas a imprensa já se acostumou tanto com essa definição que não ouso mais contrariá-la”. Conta que Dino de Laurentiis, que iria produzir A Doce Vida, queria a todo custo Paul Newman para o papel principal. Afinal, foi outro o produtor e Fellini pôde impor o nome de Marcello Mastroianni para o papel: “Achava que Marcello tinha a cara ideal para fazer aquele jornalista indolente, cético, assustado e infantil”.

Inútil quase dizer que o documentário todo é atravessado pela ternura imensa por Fellini, um dos grandes artistas do século. É a descoberta de um profissional trabalhando, falando dos outros e do que faz. E, também, uma chave para apreciar seus filmes. A certo momento, ele diz: “Gostaria de sugerir, não tanto aos críticos, mas aos espectadores, uma atenção receptiva, de completo abandono: escutem, porque eu lhes conto a minha história com uma sinceridade quase despudorada. Não busquem interpretar e compreender; procurem apenas sentir aquilo o que lhes digo, porque são as paixões, as esperanças, o medo, a covardia, as angústias e as porcarias de um homem em suma igual a vocês”. Como resistir a uma recomendação como essa?

Entrevista com Fellini: Um Auto-Retrato Revelador. Direção de Paquito del Bosco. Duração: 68 minutos. Itália. Legendas em inglês. Dia 24, às 15h50, e dia 25, às 17h30, na Sala UOL. Rua Fradique Coutinho, 361, tel. 5096-0585

(Agência Estado)

 

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