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Scola e Frears começam a esquentar a Mostra


Vittorio Gassman serve de
veículo para Scola discutir
a sociedade italiana atual

Iniciada na quarta-feira, para convidados, na Sala São Paulo, com a exibição de Palavra e Utopia, do mestre português Manoel de Oliveira, a 24ª Mostra Internacional de Cinema chega ao público hoje, em dez salas da cidade. Vai começar a correria. Se você comprou qualquer uma das assinaturas colocadas à venda, pode reservar com até três dias de antecedência, no estande montado no Conjunto Nacional, o filme que quer ver, na sala e horário escolhidos. É bom ser previdente. Por mais que os organizadores Leon Cakoff e Renata Almeida façam suas apostas nos novos talentos, o público nunca deixa de prestigiar os filmes que já estão na mídia, de autores consagrados.

Há muito que ver de hoje a domingo, a começar pelo filme de Oliveira ou então por Antes do Anoitecer, de Julian Schnabel, baseado no romance do cubano Reynaldo Arenas. Alguns filmes vão surpreender, outros desapontar, mas a Mostra é assim mesmo. Como painel das novas perspectivas e tendências do cinema brasileiro e mundial, traz o bom e o não tão bom. O importante é ver. E aí, Meu Irmão, Cadê Você era uma das produções mais aguardadas no Festival de Cannes deste ano. Afinal, é um filme dos irmãos Coen, já consagrados em Cannes com Barton Fink - Delírios de Hollywood, e traz um astro como George Clooney, preferido por 11 entre dez mulheres.

E aí, Meu Irmão é uma comédia que os irmãos, só para polemizar, disseram ter adaptado de Homero. Passa-se durante a depressão econômica americana dos anos 30 e conta a história de três fugitivos da cadeia. Caem na estrada, enfrentam a Ku Klux Klan e, lá pelas tantas, viram sensações da música country (o que permite a Clooney exibir seus dotes canoros). Já faz algum tempo que a grife Coen anda deixando a desejar. O Grande Lebowski tinha observações divertidas, mas nem o filme nem o personagem eram grandes, coisa alguma. O mesmo pode-se dizer de E aí, Meu Irmão, apesar de suas referências a Preston Sturges e aos musicais de Busby Berkeley (a coreografia da KKK).

Da Suécia vem Canções do Segundo Andar, de Roy Andersson. Havia gente em Cannes que apostava nesse filme para a Palma de Ouro, afinal outorgada a Dançando no Escuro, de Lars Von Trier, reservado só para o final da Mostra de São Paulo. Andersson, ex-assistente de Bo Widerberg, fez dois filmes de certa projeção nos anos 70. Há quase 30 estava sem filmar, fazendo só publicidade. Voltou com um trabalho elaboradíssimo do ponto de vista visual.

Canções do Segundo Andar é narrado em planos-seqüências e quase todo trabalhado na profundidade de campo. O que o diretor coloca ao fundo atira seu filme no surrealismo e termina sendo mais interessante que o primeiro plano, com sua história de um velho que concentra toda a culpa do mundo.

Billy Elliot, do inglês Stephen Daldry, está sendo vendido como o Ou tudo ou nada deste ano, o pequeno filme com sabor local e alguma substância que consegue estourar no mercado internacional. Assim vendido, chegou a provocar certa sensação no Festival do Rio BR 2000. Havia filas imensas para ver o filme. Havia pouco entusiasmo, depois. A história do garotinho que quer ser bailarino e enfrenta todo tipo de oposição, porque o pai, os amigos do pai e a vizinhança toda acham que isso é coisa de gay, possui cenas divertidas e também emocionantes, o guri é ótimo, mas é pouco provável que as massas tenham tanto prazer vendo Billy Elliot quanto tiveram assistindo à comédia com Robert Carlyle. Vale ver, no entanto, e por dois momentos bem específicos - o sapateado de Billy ao som de This Town Called Malice, do The Jam (leia-se Paul Weller, um deus para os adeptos do british pop) e a dança com que ele desafia o pai.

Quem viu e gostou do simpático Instituto de Beleza Vênus não pode perder Uma Relação Pornográfica. O filme de Frédéric Fonteyne valeu a Nathalie Baye o prêmio de melhor atriz em Veneza, no ano passado. Ela é realmente muito boa nessa história sobre sexo e paixão, cujo título dá idéia do clima pretendido pelo diretor franco-belga. Mais soturno, A Lenda de Rita, de Volker Schlondorff, devolve o diretor alemão ao tema dos anos de chumbo, que ele já focalizou no superior A Honra Perdida de uma Mulher, co-dirigido por Margarethe Von Trotta. E há também A Enfermeira Betty, de Neil Labute. Foi um dos dez mais vistos no Festival do Rio BR 2000 e marca nova decepção do diretor do furioso Na Companhia dos Homens.

E não se pode esquecer de Ettore Scola nem de Stephen Frears. O primeiro assina O Jantar, o segundo, Alta Fidelidade. Scola volta ao universo concentracionário e à abordagem temporal de O Baile e A Família. Reúne meio mundo do cinema francês e italiano num jantar, incluindo Vittorio Gassman, que morreu este ano. O filme tem lá seus problemas, mas o diretor com certeza não perdeu a delicadeza e o encanto. Frears conta a história de um viciado em música - o personagem de John Cusack tem uma loja quase falida que vende só discos de vinil. Abandonado pela namorada, o herói faz o inventário de sua vida amorosa. É um bom, mais que bom, belo Frears. (O Estado de S. Paulo)

 

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