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E Aí Meu Irmão, Cadê Você? chega em boa hora na carreira de George Clooney. Depois de protagonizar o blockbuster Mar em Fúria, o solteiro mais cobiçado do mundo, segundo a revista People, tem a chance de mostrar sua faceta independente. Nesse filme assinado pelos cultuados irmãos Coen, Clooney se impõe pela primeira vez como ator. Nessa versão moderna de A Odisséia, com direção de Joel Coen, produção de Ethan e roteiro de ambos, Clooney ganha ares de Clark Gable. O ator rodou com dentes postiços e, com o cabelo um pouco mais comprido, ganhou um leve topete à base de muita brilhantina. Recursos visuais à parte, Clooney demonstra timing para comédia, não deixando John Turturro e John Goodman, com quem ele contracena, lhe roubarem a cena. Voz dublada - Na pele de Everett Ulysses McGill, um prisioneiro que foge de penitenciária do Mississippi durante a Depressão, Clooney deita e rola. Dança, faz palhaçadas e até canta - o que não significa que a voz que o espectador ouve depois da edição de som seja dele. O ator é em parte responsável pelos melhores momentos do filme, que integra a programação de hoje da 24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os Coen, que ganharam legião de fãs graças a títulos como Arizona Nunca Mais, Barton Fink - Delírios de Hollywood e Fargo - Uma Comédia de Erros, já foram mais criativos. Como já ocorreu em outros filmes da dupla, como em O Grande Lebowski, o percurso de seus personagens na tela nem sempre os levam a algum lugar. Só que em E Aí Meu Irmão, Cadê Você? isso talvez tenha sido levado às últimas conseqüências. O que faz o espectador se perguntar, ao final da projeção, por que os irmãos fizeram o filme - que concorreu este ao à Palma de Ouro em Cannes e entrou para o rol dos títulos "incompreendidos". Tipos excêntricos - Mas, mesmo sem figurar entre os melhores dos Coen, o filme brinda os fãs com as excentricidades características da dupla. A câmera segue um trio de prisioneiros liderado por Clooney (John Turturro e Tim Blake Nelson completam o time) que sai em busca de um tesouro. Quem faz os prisioneiros seguiram a trilha da fortuna é um vidente cego, após garantir que eles encontrarão um tesouro no fim de sua jornada. Pacto com diabo - Ao longo do caminho, o trio encontra um músico negro que diz ter feito um pacto com o diabo, um ladrão disfarçado de vendedor de Bíblia, sereias que transformam homens em sapos e a mulher de Ulysses (Holly Hunter), que está prestes a se casar com outro. O problema é que aqui as esquisitices do roteiro são tantas que acabam minimizando a força da história. Até porque a trama carece de densidade emocional. Com um roteiro insosso, o estilo dos Coen salta ainda mais aos olhos. Não é de hoje que eles são acusados (às vezes injustamente) de deixar o estilo se sobrepôr à substância. Mas vale lembrar que, graças a esse estilo (por vezes afetado) da dupla, seus filmes geralmente trazem cenas muito bem filmadas, resultado de meticuloso enquadramento. Para quem procura mais desculpas para ver o filme, em exibição hoje no Unibanco, às 16h10, há ainda a bela reconstituição de época, o já citado Clooney e o fator surpresa. Afinal, os Coen podem ser acusados de tudo. Menos de previsíveis.
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