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É quase um apelo: não deixe de assistir ao filme Lista de Espera<, de Juan Carlos Tabio, pelo fato de não haver legendas em português. Pensando assim, poderá perder um dos filmes mais bacanas que está na 24º Mostra Internacional de São Paulo. O espanhol do filme é rápido demais para os ouvidos menos acostumados, e a legenda em francês pode não ajudar, mas nada disso compromete o entendimento e o deleite dessa deliciosa comédia romântica cubana. Juan Carlos Tábio é da geração de cineastas cubanos que voltou a colocar a ilha no cenário internacional, com Morango e Chocolate, em 93, que dirigiu junto à Tomáz Gutierrez Alea. Dessa guinada, foram consecutivos os títulos de destaque dentro da filmografia cubana, como Guantanamera (outra parceria dos dois diretores, de 94), O Elefante e a Bicicleta (de Tabio, 95), e abriu as portas para novidades, como Artur Sotto Díaz (de Amor Vertical, 97), e até para a velha guarda, como Pastor Vega (de As Profecias de Amanda, de 99). Por isso deve-se sempre prestar atenção nos filmes assinados por esses nomes - quase sempre há boa coisa por trás. Lista de Espera não é diferente. Pena que não participou da mostra competitiva de Cannes (assim como não participa na mostra), pois merecia premiações. É a história de uma dezena de passageiros que aguardam pela vinda de ônibus que os levem de uma interiorana e isolada estação rodoviária, onde esperam à horas. Só que os carros que ali chegam nunca têm mais que um assento livre, e o ônibus disponível na estação está quebrado. Assim, a solidariedade desse grupo aumenta e torna-se o ator principal do filme, propiciando que outras pequenas tramas aconteçam e alegrem o enredo. A historieta central ronda o engenheiro Emilio (Vladimir Cruz) e a comprometida Jacqueline (Tahimi Alvarino, os dois de Água Para Chocolate), que começam um receoso caso de amor. A sua volta, há um cego que tenta tirar vantagem da sua deficiência para embarcar antes dos outros (Jorge Perugorría, ótimo), o gerente da rodoviária (Antonio Valero) que procura acalmar os ânimos enquanto não chegam ônibus, e outros cativantes personagens, extraídos do conto homônimo do escritor cubano Arturo Arango. O curioso é que cada um desses casos e todos eles juntos são, na verdade, uma divertida metáfora à ilha de Cuba. Lá estão o isolamento comunicativo e comercial, a digna conformidade revolucionária diante da vida precária, bem como a alegria, o otimismo, a esperança típicas da ilha, tudo condensado na rodoviária. Vale a pena ver e aplaudir depois da sessão. É outro dos filmes que não estão cotados para circuito e, por isso, sua única chance de assistí-lo pode estar na 24ª Mostra de São Paulo.
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