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Filho de Gabriel García Márquez surpreende no cinema
"Coisas Que Você Pode Dizer só Olhando para Ela" e "Vatel" justificam o interesse

Glenn Close é uma das estrelas
do filme de Rodrigo García Márquez
(Divulgação)

E não é que Rodrigo García Márquez fez um filme bom? Filho do escritor Gabriel García Márquez, ele estréia no longa com Coisas Que Você Pode Dizer Apenas Olhando para Ela. O filme ganhou um dos prêmios que o Festival de Cannes reserva para os filmes que não concorrem à Palma de Ouro.

Fala de mulheres. São cinco histórias, sobre cinco mulheres que habitam o mesmo quarteirão de Los Angeles. Todas possuem vidas profissionais, relacionam-se com homens (e outras mulheres). Pequenos incidentes cotidianos entrelaçam todas essas vidas e até interferem nelas, no sentido de mudar mesmo.

Rodrigo nasceu na Cidade do México. Graduou-se em cinema no American Film Institute e começou como fotógrafo, assinando a fotografia de diversos filmes. É o que, aliás, o prejudica. O filme seria melhor se ele evitasse certos excessos fotográficos - filtros, rebuscamentos visuais que não servem necessariamente ao projeto. Mas revela habilidade como escritor, o que alguém poderá atribuir, talvez, a algum elemento genético. O filho de Gabo escreve bem. Os diálogos do seu filme e a própria forma como as várias histórias se articulam, dramaturgicamente, o revelam.

É um filme engenhoso, senão inovador, a começar pelo título - o que você pode dizer sobre uma mulher só de olhar para ela? É uma fantasia masculina que o diretor concretiza com delicadeza, traçando diversos retratos de mulheres na tentativa de falar sobre a mulher, decifrando seu mistério. Em Cannes, mais até do que um filme de diretor (ou de autor), foi considerado um filme de atrizes. Elas são todas ótimas. Glenn Close, Holly Hunter, Kathy Bates, Cameron Diaz e Valeria Golino. Só o fato de reunir essas mulheres já vale um crédito para Rodrigo García Márquez. Glenn, como sempre, dá um show, mas se fosse preciso reter uma só cena de Coisas seria a da explosão de Holly após o aborto.

Outra atração de hoje é Vatel. O filme abriu oficialmente o Festival de Cannes deste ano. A cerimônia de abertura, aliás, foi emblemática do que seria o festival. Uma superprodução representativa destes tempos de globalização foi precedida de um curta (de Jean-Luc Godard) feito com a mais avançada tecnologia digital, L'Origine du 21eme Siècle. Vatel tem direção de Roland Joffe. Há tempos não acertava uma, mas a verdade é que até seus (considerados) grandes filmes não suscitam muito entusiasmo - Gritos do Silêncio e A Missão. A surpresa é constatar que Vatel, sobre o banqueteiro do rei Luís XIV, é uma festa de Babette menos espiritual e mais dura, no sentido de crítica, que a de Gabriel Axel com Stephane Audran. Veja e confirme. (O Estado de S. Paulo)

 

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