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Que ninguém faça a Laís Bodansky o insulto de dizer que seu filme Bicho de Sete Cabeças é surpreendente por ser bom. O documentário que ela fez antes com seu marido Luis Bolognesi, Cinema Mambembe, já era bom. Mesmo assim, "Bicho" surpreende por sua força, por sua coragem. Só no genial Imagens do Inconsciente, de Leon Hirszman, o cinema brasileiro trafegou com essa intensidade pelo universo da loucura. "Bicho" passa nesta quinta(26) e sexta na Mostra. A diretora participará das duas sessões com o ator Rodrigo Santoro, que faz o protagonista, Neto. Laís participava de um grupo que discutia cidadania e loucura. Começou a ler vorazmente sobre o assunto. Topou com o livro "Canto dos Malditos", de Austregésilo Carrano, em que ele lembra sua experiência num instituto psiquiátrico, nos anos 70. Foi tão terrível que Carrano virou ativista do movimento antimanicomial. Impressionada com o relato, Laís decidiu que era o filme que queria fazer, apenas transpondo para a atualidade a ação de 30 anos atrás. Mas não foi fácil. Levantar dinheiro para a produção de filmes é sempre difícil no País, mas nesse caso foi mais difícil ainda. Ninguém queria ligar seu nome, ou o nome de sua empresa, ao projeto. Laís fez o filme com o apoio da Riofilme. E diz que só conseguiu terminá-lo com a ajuda da Fabrica, a divisão da Benetton para o cinema. Foi no ano passado que ela conheceu Marco Müller, o homem da Fabrica. Ele estava no Brasil, como jurado da Mostra e resolveu bancar a finalização do "Bicho". Laís foi para a Itália, primeiro para Treviso, sede da Fabrica, depois Roma, o lendário estúdio de Cinecittà. Bolognesi e ela ficaram seis meses no exterior. Foi uma experiência memorável, ela diz, destacando o trabalho do montador Jacopo Quadri, que editou Assédio para Bernardo Bertolucci. "Bicho" faz a síntese de Um Estranho no Ninho, de Milos Forman, com Vida em Família, que Ken Loach realizou baseado nas teorias antipsiquiátricas de R. D. Laing. Laís concorda com a primeira parte. "Um Estranho" foi mesmo uma referência permanente para ela - como história, abordagem, direção de arte, direção de atores, tudo. Não conhece o filme de Loach, espera vê-lo para confirmar o que diz que pode ser coincidência, não influência. Houve outro filme que foi farol para ela - Em Nome do Pai, de Jim Sheridan. Cruzou com Daniel Day-Lewis em Roma. Achou que era um bom signo para "Bicho". O filme é ótimo.
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