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Pão e Tulipas é uma comédia italiana irresistivelmente atípica. Esqueça dos personagens espalhafatosos, das emoções exageradas e das cenas embaladas por gritarias. Um dos destaques da programação de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme dirigido por Silvio Soldini é leve, delicado e borbulhante. Como um champanhe. Com direção elegante e belíssimas tomadas de Veneza, Soldini retrata a jornada de uma dona de casa que redescobre o prazer nas pequenas coisas da vida. O "renascimento" de Rosalba (Lícia Maglieta, em performance luminosa) se dá após incidente banal: a mulher é deixada em restaurante de beira de estrada durante uma excursão. Detalhe: o marido e os filhos não percebem que ela não está no ônibus na hora da partida. A falta de consideração da família é a desculpa que Rosalba estava esperando para concretizar o sonho de conhecer Veneza. Só que ao desembarcar na cidade dos canais, a mulher não consegue mais ir embora. Suas repentinas férias acabam resultando em mudanças drásticas, abrangendo tanto o seu cotidiano quanto as suas aspirações. Garçom misterioso - Com o entusiasmo de quem deixa para trás uma tediosa rotina de dona de casa, Rosalba consegue um emprego como florista, faz amizade com uma simpática esteticista (Marina Massironi) e passa a dividir um apartamento com um misterioso garçom da Islândia (Bruno Ganz, que confere à trama um toque angelical de Asas do Desejo). Após finalmente perceber a falta que Rosalba faz, o marido (Antonio Catania) se desespera e resolve contratar um detetive (Giuseppe Battiston) para descobrir seu paradeiro. Esse profissional, aliás, garante algumas boas risadas ao demonstrar total despreparo para a função. O personagem é hilário - a começar pelo seu guarda-roupa, que parece copiado de um detetive das histórias em quadrinhos. O aspecto mais revelador da história é que, apesar de tantos anos de sacrifício e dedicação à família, Rosalba vai encontrar muito mais amizade, respeito e amor entre estranhos. Ao retomar suas verdadeiras necessidades, coisa que ela já havia esquecido, a protagonista até redescobrirá a sua paixão musical. No caso, pelo acordeão. Para quem ainda não se convenceu de que Pão e Tulipas merece ser visto, o título chega à cidade com boas credenciais. Depois de uma passagem bem-sucedida pelo Festival de Cannes, em mostra paralela, o filme ainda levou este ano nove prêmios David di Donatello (considerado o Oscar italiano).
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