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24ª Mostra: "Nenhum lugar para ir" retrata euforia e desesperança pós-muro


Divulgação

A doença ou loucura como metáfora para decadência de culturas ou desmoronamentos de civilizações tem sido campo privilegiado para artistas. O romancista alemão Thomas Mann retratou o colapso do humanismo europeu em dois livros (A Montanha Mágica e Doutor Fausto) ambientados em um sanatório e por meio de uma doença que lentamente arruina o homem.

Esse gosto germânico pela doença como metáfora de certa forma se expressa em Nenhum Lugar para Ir (Die Unberührbare) , de Oskar Roehle. O longa é o escolhido pelo governo alemão para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A obra é baseada na história real da escritora Gisela Elsner, cuja progressiva depressão a leva a cometer suicídio.

No filme, Gisela é Hanna Flanders, interpretada por Hannelore Elsner. No outono de 1989, a escritora encontra-se em meio a uma crise que coincide com a explosão eufórica da queda do Muro de Berlim. Ela vê as imagens da festa pela televisão e resolve mudar-se para Berlim. Os livros de Flanders caíram numa espécie de purgatório em razão de seu pessimismo e crítica à sociedade de consumo do Ocidente. Finalmente, ela poderá conhecer o utópico outro lado.

Quando é acolhida por uma família da ex-Berlim comunista, percebe que todos estão eufóricos demais e que será inútil apontar-lhes os miasmas ocidentais.

A errância de Flanders, os repetidos desencontros e o lugar que ela nunca encontra contrastam com o otimismo irrefletido dos alemães.

Cigarros e barbitúricos - Roehler filmou em preto e branco acentuando os momentos depressivos da personagem, em uma magnífica interpretação de Hannelore. Ela se entope de barbitúricos, acende um cigarro no outro, e acaba num leito de hospital. É como se a doença fosse a única saída ou a única resposta para uma sociedade insana.

O fim da divisão da Alemanha é tomado como ponto de partida para Flanders refazer sua vida. Ela parte então para os encontros. Primeiro, um namorado em Berlim, que a ignora e comunica-lhe que vive com outra pessoa. Em toda parte, ela é agredida pelas críticas acerbas à sociedade de consumo, na qual todos desejam ingressar. O triunfo do fim da história é saudado como a terra prometida onde haverá espaço para todos os alemães.

Ela decide voltar para Munique. No meio do caminho, visita os pais. Mas mesmo em sua antiga casa não é aceita. O reencontro com um homem que a amava também é desastroso. Em Munique, não lhe resta nada. O recomeço é impossível.

Ao filmar a vida de Gisela Elsner, Roehler realizou um dos mais fortes retratos da Alemanha pós-muro.

Nenhum Lugar para Ir, atração de hoje da Mostra, às 16h50, no Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 1.000, tel.: 3277-3611).
(Jornal da Tarde)

 

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