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O documentário O Lixo e a Fúria, que estréia na segunda-feira na 24a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tem como narradores os próprios integrantes dos Sex Pistols e faz um relato do surgimento, ascensão e queda de um dos maiores mitos do movimento punk. O diretor inglês Julien Temple, que acompanhou de perto a curta trajetória dos Pistols de 1976 a 1978, reuniu imagens de shows e entrevistas dadas pelo grupo na época, além de depoimentos polêmicos e atuais de Johnny Rotten (vocal), Glen Matlock (ex-baixo), Steve Jones (guitarra) e Paul Cook (bateria). Mixado com cenas hilariantes de Ricardo III, uma produção de Laurence Olivier para a TV britânica, O Lixo e a Fúria recria o cenário inglês que abriu espaço para a disseminação do movimento punk. Temple obriga o espectador -- muitas vezes acostumado a canonizar a banda -- a lembrar quão chocantes, sujos e agressivos eram os Pistols. Não porque eles realmente tivessem a intenção de mudar o mundo, mas porque não tinham respeito e auto-estima. O filme dá a entender que eles simplesmente não ligavam para nada, embora o descontentamento político fosse um elemento-pivô em sua música. "A única razão pela qual concordei em fazer 'O Lixo e a Fúria' foi a liberdade de poder contar a história dos Pistols como ela realmente aconteceu. Não nos gabamos da nossa influência, mas somente dizemos a verdade. Nos últimos 20 anos, as pessoas exageraram ao transformar os Pistols em algo que nunca fomos'', disse Johnny Rotten em uma entrevista no site oficial da banda (https://www.thefilthandthefury.co.uk). O diretor também mostra as constantes discórdias entre Rotten e o empresário, Malcom McLaren, que, embora se considerasse o gênio que "criou" os Pistols, nunca quis incitar a revolta popular através da cultura pop, mas ganhar dinheiro. Felizmente, Temple não credita mais do que o tempo necessário para Sid Vicious, que nunca tinha tocado baixo, entrou para a banda para substituir Glen Matlock e acabou se tornando ícone da juventude punk ao morrer de overdose de heroína em 1978. Mas O Lixo e a Fúria também fascina ao retratar um movimento punk cheio de contradições, cuja rebeldia expressada nas melodias de três acordes era uma conformidade com um outro nível de expectativas. Os piercings, as roupas rasgadas, a falta de banho e os cabelos moicanos acabaram se tornando um modismo, e Temple faz questão de mostrar os Pistols numa obra antidrogas, para surpresa de muitos. Talvez um dos grandes méritos de O Lixo e a Fúria seja mostrar que os Pistols não criaram o punk, mas apenas se destacaram em um cenário que já contava com nomes como Clash, Siouxie e Ramones. Segundo Rotten, "Não éramos uma conspiração da classe média ou um movimento intelectual orquestrado por McLaren. Apenas estávamos sendo nós mesmos. As pessoas não gostam de encarar o fato de que éramos apenas um grupo de garotos querendo se divertir."
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