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Era um dos filmes mais esperados no Festival de Cannes deste ano. No final, Código Desconhecido não recebeu prêmio algum do júri presidido por Luc Besson, mas não foram poucos os críticos que o consideraram uma das obras mais intrigantes da competição. Aqui mesmo em São Paulo, o novo filme de Michael Haneke já encontrou admiradores que o consideram um dos melhores, senão o melhor filme de toda a programação. Haneke constitui-se num caso, no cinema atual. Funny Games, também exibido em Cannes, é um dos filmes mais discutidos da década. Uma experiência desagradabilíssima - dois rapazes irrompem na casa de uma família burguesa; torturam e matam. Haneke fez um filme no fio da navalha. É até difícil dizer se ele está sendo crítico ou simplesmente atraído pela violência. A polêmica está de volta com Código Desconhecido. Juliette Binoche é a alma desse filme. Foi ela quem tomou a iniciativa de ligar para Haneke, oferecendo-se, incondicionalmente, para trabalhar em qualquer filme por ele dirigido. Juliette é uma raridade - uma estrela francesa com projeção internacional, sedimentada pelo Oscar de coadjuvante que recebeu por O Paciente Inglês. Com seu apoio, o aval de seu nome, não foi difícil para Haneke levantar a verba da produção. Em torno da bela Juliette, o diretor teceu uma trama que trata da xenofobia européia. Juliette interpreta uma atriz. Tem um namorado fotógrafo. Em torno deles movimenta-se uma série de personagens - negros, árabes, remanescentes do antigo Leste Europeu. Todos vivendo expatriados em Paris, todos vítimas da hostilidade francesa contra o outro, considerado inferior. Paris foi sempre uma mãe que acolheu dissidentes e exilados de todo o mundo. Ultimamente, a direita francesa, usando a crise como justificativa, desencadeou verdadeira guerra contra negros e árabes. São as vítimas preferenciais desse ódio racial. Haneke constrói cenas impressionantes. Um homem atira um resto de papel numa mendiga, um negro reage e é tratado como se fosse um criminoso. Uma mulher é insultada no metrô, só um árabe tenta defendê-la. Cenas impressionantes que revelam a nova barbárie européia. Haneke filma em planos-seqüências. O cinema, para ele, é uma questão de moral. Mas, como em Funny Games, é estreito o limite entre o horror e a fascinação pela violência que nos desumaniza.
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