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Uma das boas surpresas da 24ª Mostra foi Princesa, do brasileiro radicado na Inglaterra Henrique Goldman. O filme foi classificado entre os 12 melhores pelo público que votava depois de cada sessão e o resultado surpreendeu o próprio diretor. "Estou muito feliz. Terminei Princesa dias antes da Mostra, e queria muito participar dela, já que passei minha adolescência acompanhando esse evento e cheguei a trabalhar com o Leon Cakoff". O filme era um antigo projeto de Goldman, que teve dificuldade em realizá-lo. "Na Itália era impossível. Eles só financiam projetos italianos." Ele teve sorte de conhecer a produtora Rebecca O'Brien, responsável por filmes de Ken Loach e Wim Wenders. "Ela gostou do projeto e obteve recursos com empresários europeus." Princesa custou US$ 2,5 milhões e foi feito em três meses. Conta a história de um travesti brasileiro que vai ganhar a vida na Itália, sonhando juntar dinheiro para a operação de mudança de sexo. Ao chegar, encontra-se com dezenas de brasileiros, enfrenta problemas com a polícia, cafetinagem e acaba apaixonando-se por um homem casado. "Quis contar uma história humana, mesmo sabendo do enorme preconceito que muita gente tem para com os travestis." O maior mérito Goldman é ter trabalhado com travestis de verdade, não com atores, por influência do neo-realismo italiano. "Devo ter conversado com quase mil travestis brasileiros e italianos e selecionei algumas dezenas para testes." Isso explica a falta de expressão da atriz principal, Ingrid de Souza, compensada por sua naturalidade como o travesti Fernanda, que sonha ser dona de casa. "Ela está ótima porque tem o ar ingênuo e sonhador que o personagem exigia. Além disso, só um travesti ficaria bem nas cenas de nudez, que são bem discretas", comenta Goldman. Em compensação, há duas boas revelações. A cafetina Karen, interpretada pela italiana Lulu Pecorari, e o travesti Charlô, feito por Biba Lerue. A cena em que Fernanda e Charlô se reencontram e esta última, já com sintomas de aids, pede desculpas, deve sua força ao talento de Biba. Para compensar a falta de experiência dos atores, o filme foi rodado em ordem cronológica. As cenas de prostituição nas ruas foram filmadas de longe e a maioria dos clientes era real. "Queria o máximo de realismo e, assim, pedi que os figurantes agissem da mesma maneira como se comportavam nas ruas." O clima ficou tão real que alguns levaram a coisa a sério. "Muitos dos travestis que estavam trabalhando como extras acabaram saindo para programas de verdade em meio às filmagens." Essas cenas deixam o filme com aparência de semidocumentário. Mas há momentos de romance, que deixam no espectador a impressão de estar vendo uma versão GLS de Uma Linda Mulher. "Eu queria que Princesa tivesse um toque de conto de fadas, mas sem descambar." De fato, Goldman retoma a seriedade e as cenas que discutem a operação de mudança de sexo são, por assim dizer, de uma precisão cirúrgica. "Conversei com vários andrologistas, psiquiatras e li muita coisa sobre o assunto. Em termos médicos, não há o que contestar no meu filme." Animado com a acolhida de Princesa na Mostra, Goldman espera que algum distribuidor resolva exibi-lo comercialmente no Brasil. Segundo sua assessora, Sofia Carvalhosa, ainda não há nada concreto. "Vamos iniciar os contatos depois da Mostra", conta ela.
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