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Foi uma madrugada de festa para a equipe de Bicho de Sete Cabeças. Na terça à noite, o filme de Laís Bodanzky recebeu nada menos do que nove prêmios no 33º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, entre eles os de melhor filme para o júri oficial, para a crítica e para o público. A diretora, acompanhada pelo marido, o roteirista Luis Bolognesi, e o pai, o cineasta Jorge Bodanzky, voltou cedo para o Hotel Nacional, mas houve gente que amanheceu a quarta-feira comemorando. Laís, porém, na quarta à tarde, já estava mostrando o filme no Ministério da Saúde, em Brasília. Enquanto isso, a produtora Sara Silveira e o produtor associado Fabiano Gullane chegavam a São Paulo para iniciar uma nova etapa de trabalho. Com a produtora executiva Maria Ionesco, eles só vão dar um pequeno descanso a Laís e a Bolognesi antes de sair a campo em busca de recursos indispensáveis para o lançamento nacional de Bicho de Sete Cabeças. Em bom português - Laís pode ter sido a grande vencedora do Festival de Brasília, mas precisa de recursos para pagar publicidade, confecção de mais cópias e ter cacife na barganha com os exibidores. Enfim, tudo que possibilite um lançamento à altura de seu belíssimo filme adaptado do livro de Austregésilo Carrano, O Canto dos Malditos. Senão, "Bicho" corre o risco de virar o grande filme cult que tinha potencial de público - o próprio prêmio que recebeu atesta isso -, mas não dispôs de meios para encontrar seu caminho até o coração dos espectadores. Ver esse filme é uma experiência única. Forte e emocionante. Muita gente chora vendo "Bicho", quase todo o mundo indigna-se com a realidade mostrada por Laís. Um jovem, Neto (Rodrigo Santoro, melhor ator em Brasília), é internado pelo pai, que encontrou um cigarro de maconha em seu bolso. Neto conhece o inferno do sistema manicomial brasileiro, repetindo na tela o horror vivido pelo escritor Carrano - e ao qual sobreviveu para contar com tanta verdade. Pois apesar de toda essa força, quase não houve investidores interessados em colocar dinheiro na produção do "Bicho". Quando foram bater à porta da produtora de Sara Silveira, a Dezenove, Laís e Bolognesi haviam conseguido captar, por meio da Lei do Audiovisual, somente R$ 450 mil - assim mesmo de empresas como a Eletrobrás e a BR Distribuidora, que são parceiras tradicionais do cinema brasileiro. Ninguém mais quis ligar o nome de sua empresa a um projeto que trata de drogas, loucura e da função repressora da família. "Bicho" estaria inviabilizado se não tivesse surgido aquele que Sara chama de "parceiro querido" e Laís de "anjo". Marco Müller, o homem da Fabrica, o braço da Benetton para o cinema, soube do projeto do "Bicho" quando participava, como jurado, da Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Ele associou a Fabrica ao filme, investindo US$ 150 mil na produção, US$ 35 mil na trilha e mais US$ 5 mil na estada de Laís na Itália, onde ela foi montar o filme. Sara também acredita que a Fabrica tenha investido US$ 200 mil na finalização do "Bicho" na Itália - onde os valores são inflacionados em relação ao Brasil -, em troca de parte dos direitos internacionais de distribuição. Foi um aporte valioso, mas "Bicho" ainda estaria ameaçado se não surgissem outros parceiros - a Riofilme, que investiu cerca de R$ 100 mil em troca dos direitos no País, e a fundação suíça Montecinemaverità que aplicou US$ 25 mil, a fundo perdido. Por mais importante que tenha sido a contribuição da Riofilme, a empresa não tem força junto aos exibidores para bancar o lançamento que "Bicho" exige e está disposta a aceitar um parceiro, o que pode ser benéfico, mas ainda não resolve o problema. "Bicho" precisa de cerca de R$ 550 mil, que podem ser captados pela Lei do Audiovisual, para pagar as despesas do lançamento que Sara Silveira programa para fevereiro na entressafra das estréias de verão (janeiro) e das do Oscar (março). O prazo de captação termina em 31 de dezembro. Até pela experiência que teve com Bolognesi quando fizeram "Cine Mambembe", percorrendo o Brasil, Laís sonha com um lançamento para "Bicho" que ultrapasse os circuitos tradicionais e atinja o alternativo, o universitário, tudo o que possa abrir as portas para o seu trabalho. O prestígio adquirido pelo filme talvez mobilize os investidores, que estarão se associando a um produto vitorioso. O apelo está lançado e os interessados devem ligar para (11) 3064.8001.
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