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Os monges budistas de um monastério tibetano no norte da Índia recitam mantras, meditam, estudam textos sagrados, tomam chá com manteiga e adoram o futebol de Ronaldinho que, apesar de não ser monge, também tem a cabeça raspada. A Copa, de Khyentse Norbu, baseado em fatos reais, é um filme budista que brinca, sem perder o respeito, com filosofia e religião, alfineta a ocupação chinesa no Tibete e conta uma história deliciosa. A história, como um conto tibetano, é simples e, aparentemente, ingênua. A saga de um grupo de noviços para assistir aos jogos da Copa do Mundo da França, pela televisão. Cenas de futebol mesmo são poucas. Alguns lances da vitória da França sobre a Itália e da França sobre o Brasil, para a tristeza do jovem Orgyen, o personagem principal, fã de Ronaldinho. Alguns monges ficam divididos na final da Copa, já que também torcem pela França, segundo eles, o único País que apóia o Tibete. “Os americanos morrem de medo dos chineses”, dispara um garoto. Por isso não querem perder nem a execução da Marselhesa, antes do jogo contra a Itália. O futebol brasileiro é citado o tempo todo. Mas a imagem que aparece com mais destaque é a de Zidane, eleito nesta segunda, pela segunda vez, o jogador do ano. Os próprios noviços não perdem a oportunidade para bater uma bolinha no pátio do mosteiro quando estão em hora de folga. Orgyen veste uma camiseta regata com o número 9 e o nome de Ronaldo. E sonha com a presença de uma Seleção do Tibete em um Mundial de Futebol. Estratégia de fuga - À noite, os jovens monges articulam estratégias para a fuga do mosteiro para assistir aos jogos na pequena vila. Os jogos começam à meia noite por causa do fuso horário da Índia. De manhã, sofrem para levantar cedo e iniciar as orações. As críticas à ocupação chinesa no Tibete desde a década de 50 e a indiferença das nações diante do sofrimento dos seguidores do Dalai Lama ficam por conta de dois exilados, tio e sobrinho, que acabam de fugir e chegam ao mosteiro para se ordenar. Aos poucos, eles vão se adaptando a uma nova rotina no dia-a-dia do mosteiro ao lado de outros patrícios exilados há mais tempo. E descobrem o prazer do futebol pela televisão. O exército do Nepal também não é poupado. Os monges reclamam dos nepaleses que perseguem e prendem os fugitivos do Tibete, devolvendo-os para a temida força de ocupação chinesa. No Tibete, lembram os monges, a simples posse de uma foto do Dalai Lama já é considerado crime. Não por acaso o filme começa com uma imagem monumental do Palácio de Potala, antigo centro da dinastia dos Lama, em Lhasa, capital do Tibete. O Palácio de Potala, entretanto, é uma lembrança distante para o velho Mestre que dirige o monastério. Mas a política internacional sobrevive apenas de rápidos cutucões nas conversas entre os monges. Este não é o objetivo principal do filme. Ao vestirem pela primeira vez a longa túnica, os recém-chegados recebem o estímulo bem-humorado de Orgyen: “Não se preocupem. Esta é uma moda de 2500 anos”. Diálogos rápidos vão, aos poucos, permitindo que os mais velhos possam compreender um fenômeno chamado Copa do Mundo. E acabar respeitando o interesse dos mais jovens. “São duas nações civilizadas que brigam por uma bola”, explica ao Mestre o instrutor Geko. O Mestre pergunta se há violência. “Algumas vezes sim”, responde Geko. “E sexo?”, indaga o mestre. “Não há sexo”, tranqüiliza o instrutor. Leia mais:
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