O cinema oriental causa certo estranhamento aos olhos do público do ocidente. Por mais que já se tenham realizado cenas marcantes, o cinema do lado deste lado do planeta ainda não conseguiu retratar a quietude, solidão e silêncio arrebatadores, tão presente em filmes coreanos, japoneses e chineses.Mentiras, do coreano Jang Sun Woo é uma destas produções que fará grande parte do público deixar o cinema indignado, soltando palavras de revolta que refletem, na verdade, o grande desentendimento e falta de sensibilidade àquilo que se vê.
Mentiras conta uma história de amor. Não um amor comum e feliz como o que o cinema estiliza e retrata na maior parte de seu tempo, mas um amor absurdo e sem esperança, cheio de dor, flagelo e açoites.
Jang Sun Woo conta a relação entre uma garota de 18 anos e um escultor de 38 anos. No primeiro encontro, ela entregua a sua virgindade a ele. No segundo, o sexo se torna mais intenso. No terceiro, ele traz um chicote. Neste relacionamento obsessivo e sádico, a violência torna-se elemento central da trama. A vida dos dois converte-se em um trajetória sem rumo, atolada no sexo forte e doentio.
Chega a ser devastadora a forma como o diretor direciona o público ao ato de amor dos personagens, que passam a viver de motel em motel, apenas para satisfazer o desejo sexual que os consome. Segundo Jang Sun Woo, essa também é uma história sobre o sonho de viver, comer e transar, sem ter de trabalhar. "A ortodoxia social prega que todo mundo tem direito a trabalhar e ter uma vida decente, por isso me diverte muito mostrar um ponto de vista contrário", revela o diretor.
Jang Sun Woo nasceu em Seul, em 1952, e é um dos mais aclamados diretores da Coréia. Realizou filmes de sucesso internacional, como Hwa-om-Kyung, de 1993, Kyotip, de 1996, e Nappun Yeonghwa, de 1997. Seu trabalho combina diferentes estilos de direção e aborda temas dramáticos e controversos.