O primeiro dia de festival no Teatro Guararapes, em Recife, trouxe ao auditório o que seria a própria temática do Festival deste ano: "Cinema Brasileiro, Uma Arte de Raça", que destaca a cinematografia negra do país, tão esquecida e relutante. Dentre os filmes escolhidos para a abertura, estavam: Distraída para a Morte, Pixaim e Domésticas.Distraída para a morte consagra-se como a mais nova obra do jovem cineasta paulista Jeferson De. Este é o primeiro de uma série de seis filmes sob a estética do Dogma Feijoada, linha criada por Jeferson que destaca a presença do negro e de sua cultura nos filmes. Distraída... traz o universo de três jovens negros que enfrentam dramaticamente sua própria existência na perturbadora São Paulo. Sem destino, distraídos, perambulam por vielas, ruas e grandes avenidas. Três experiências e três formas distintas de perceber o mundo, unidas por uma brincadeira de vida ou morte.
A trilha sonora e a grande qualidade de aúdio são um dos destaques deste filme que traz a participação da consagrada atriz Ruth de Souza e da jovem Cinthya Rachel. Segundo o diretor, seu filme aponta um caminho que demonstra que é possível fazer, resgatar e preservar o cinema negro. Para Jefferson, este é um momento histórico na cinematografia, pois quebra com o preceito de uma representação estilizada e quase "patética", vista na maioria dos papéis destinados aos negros no cinema.
Outro destaque da noite foi o curta baianoPixaim, de Fernando Belens. O filme traz uma ficção ambientada no início dos anos 70, época em que o Brasil vive uma feroz ditadura, mas destaca um momento de mudança de hábitos, de possibildade de uma renovação interior. Nesse ambiente de falta de cidadania, coexistem no centro histórico de Salvador, um salão de beleza comandado pela racista cabelereira Petita, e que somente atende às negras em horário de "Apartheid" e o velho barbeiro Bartolomeu que atende homens negros. O choque de valores chega ao clímax quando Adaclice chega à barbearia do pai para aprender a cuidar de penteados afro e black power.
Domésticas, de Fernando Meirelles e Nando Olival foi um dos mais aplaudidos da noite. Neste longa, a vida de domésticas ganha um retrato inusitado, trazendo novamente para as telas, questionamentos sobre a posição do negro na sociedade, através de aspectos culurais, sociais e econômicos.