A jornalista e diretora Tetê Moraes registra o assentamento de sem-terras mais de dez anos depois de filmar Terra para Rose, premiado documentário sobre a ocupação de um latifúndio no Rio Grande do Sul, na Fazenda Annoni, por um grupo de lavradores rurais que inspirariam a criação do Movimento dos Sem-Terra (MST).Foi em 1985 a primeira vez que a diretora realizou contato com os ocupantes da fazenda. O Sonho de Rose segue a trilha de Terra para Rose. O documentário conta como estão as 1.500 famílias de agricultores que participaram da primeira ocupação de terra improdutiva no Brasil. "Não era minha intenção fazer uma continuação, mas, com o crescimento do MST, além da minha curiosidade sobre o destino daquelas pessoas, me convenci a voltar ao local."
Tetê parte de histórias pessoais para montar a trajetória do grupo: alguns abandonaram o MST no meio do caminho, outros foram bem-sucedidos com suas cooperativas. É especialmente interessante descobrir o destino da família de Rose, mulher que participou da ocupação da Fazenda Annoni, em 1985, com o marido, e teve um destino trágico: depois de ter um filho, o primeiro bebê nascido no acampamento, Rose foi atropelada por um caminhão, acidente que depois foi apurado como criminoso.
"Curiosamente, a família dela não ficou no assentamento: o marido, desanimado, perambulou desempregado, com os filhos", conta Tetê. "A filmagem de O Sonho de Rose, porém, motivou uma discussão entre os próprios personagens do filme, que buscaram uma solução até que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), recentemente, decidisse assentar a família de Rose."
Captado em Beta, o filme foi transferido para película. Foi com a ajuda dos amigos e parcerias que a diretora conseguiu realizar o longa, cujo orçamento já era reduzidíssimo. Um dos destaques do filme é a trilha sonora de Chico Buarque de Holanda que, depois de assistir ao vídeo, aceitou o pedido da diretora de regravar a canção Assentamento.