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Ed Harris encarna vida e obra de Jackson Pollock em filme fundamental
Isso provavelmente nunca iria acontecer, mas Ed Harris merecia ser contemplado com o Oscar por sua atuação em Pollock. A academia entendeu o valor da obra e premiou Marcia Gay Harden como atriz coadjuvante, embora seu papel, na verdade, seja o de protagonista feminina.Veja trailer do filmeEd Harris tornou real seu sonho ao dirigir, produzir e estrelar um filme sobre um dos maiores pintores do pós-guerra americano, Jackson Pollock. Nesta biografia filmada, baseada no livro Jackson Pollock: An American Saga, o ator traz à tela a personalidade e arte de um artista obcecado pelo verdadeiro sentido e sentimento de sua obra. Precursor do expressionismo abstrato americano, Pollock estudou em Nova York entre os anos 1929 e 31, com o também pintor Thomas Hart Benton. Apesar disso, sua grande influência artística foi de A. P. Ryder, da arte muralista mexicana, especialmente de Siqueiros, e principalmente do surrealismo de Pablo Picasso, o qual Pollock tinha verdadeira veneração. Tal influência é revelada logo no ínicio do filme, em que o pintor americano, num de seus devaneios alcoólatras, revela: “Dane-se Picasso! O desgraçado era completo.” A figura trágica que vemos no retrato de Pollock por Harris traz um artista ousado, inflexível e agressivo. Tais características marcaram este pintor que transcendeu e violou os limites da arte através de sua personalidade auto-destrutiva, misturando estrutura à espontaneidade, disciplina à liberdade, que culminou numa forma única de expressão em sua época. Para Pollock, a Arte Moderna nada mais era que “os anseios contemporâneos do tempo em que vivemos”. O filme conta a história de Pollock a partir dos anos 40, quando a também pintora Lee Krasner (Marcia Gay Harden) visita seu estúdio pela primeira vez. Na verdade, o estúdio ficava num apartamento decadente em que o pintor morava junto ao irmão e sua esposa grávida. Foi nesta mesma década que artistas começaram a livrar-se do peso das figuras e dos controles estéticos, convertendo-se em abstracionistas. Mas, enquanto os grandes mestres modernistas europeus expunham regularmente em museus de Arte Moderna e de Pintura Não-Objetiva (como o Museu Guggenheim), artistas americanos eram considerados meros seguidores provincianos. Com o início da Segunda Guerra a situação começou a mudar. Vários artistas europeus renomados foram forçados a fugir da dominação nazista em países onde o Cubismo, Expressionismo e o Surrealismo foram oficialmente banidos por serem considerados movimentos de arte degenerados. Nesta época, um grande número de exilados europeus com Max Ernst, Marcel Duchamp, Fernand Léger, Joan Miró e Mondrian mudaram-se para Nova York, onde suas idéias estimularam a vanguarda americana. A herdeira e patrona desta arte foi Peggy Guggenheim, sobrinha de Solomon Guggenheim, que estabeleceu um ligação crucial entre os movimentos americanos e europeus. No filme, Pegg é interpretada pela mulher do diretor, Amy Madigan. Exilada em Nova York, abriu a galeria Art of This Century, que rapidamente tornou-se a sensação da cidade. Neste período adquiriu grandes obras de vanguarda apoiando significativamente os artistas. Além de exibir trabalhos abstratos e surrealistas, que trazia da Europa, Peggy Guggenheim começou a procurar representantes americanos de tais movimentos. Foi mesclando trabalhos de grandes nomes a desconhecidos, que ela ajudou a legitimar diversos artistas, que logo formariam o núcleo nova-iorquino. É através do marchand bonachão Howard Putzel (But Cort) que Peggy conhece o trabalho de Pollock. A galerista apaixona-se pelo trabalho do artista e investe em sua carreira. É na galeria Art of This Century que ele realiza sua primeira mostra individual e insere-se no mercado de arte, mas não agrada à crítica. Pollock, Robert Motherwell, Mark Rothko, Willem DeKooning (Val Klimer), Clyfford Still e William Baziotes (interpretado pelo artist Kenny Scharf) foram apenas alguns dos artistas que reaizaram suas primeiras exposições individuais na galeria Art of This Century. Apesar de todos os fatos biográficos, o grande mérito do filme é o enfoque no relacionamento do artista com a pintora Lee, que torna-se sua mulher. Apaixonada pelo homem e sua arte, Lee é quem dá suporte psicológico e emocional ao pintor, que tinha um sério problema com o álcool. Em 1945 mudam-se para uma pequena fazenda em Long Island, e é aí que a criação de Pollock torna-se extremamente frutífera. Seu experimentalismo ocasionou o desenvolvimento completo de seu trabalho. Ele energeticamente desenhava com grandes pincéis em enormes telas. Às vezes, aplicava a tinta diretamente dos tubos e, algumas vezes, usava tinta metálica para proprocionar um efeito de brilho em seus quadros. Seu vigoros ataque às telas e sua devoção ao verdadeiro ato de pintar tornaram Pollock um símbolo da nova revolta artística. É pintando uma de suas telas no chão que ele encontra sua maior característica: fluxos de tinta, sem a marca do pincel, com líquidos soltos, definidos por pingos, respingos e grandes gotas abundantes. A partir daí, sua técnica aperfeiçoa-se, seus trabalhos ficam cada vez mais elaborados e catárticos, o que o consagra entre a crítica. Seu sucesso chega ao ápice em 49, quando expõe trinta quadros em uma mostra individual e vende quase todos, restando apenas cinco.
Luciana Rocha - Redação Terra
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