Alguns adoraram, outros odiaram -- mas poucos críticos ficaram em cima do muro, na quinta-feira, com relação ao musical hollywoodiano de 50 milhões de dólares Moulin Rouge, que abriu o Festival de Cinema de Cannes deste ano. "É como o que há de pior na Disney, só que cheio de afetação", disse o jornal de tendência esquerdista Libération, desancando a história de amor dirigida por Baz Luhrmann, ambientada na capital francesa em 1899 e estrelada por Nicole Kidman e Ewan McGregor.
"Isto não tem nada a ver com cinema -- lembra mais um comercial de bebida espumante", fulminou o crítico do Libération, Philippe Azoury, depois de ver o filme, que abriu a 54a edição do festival de Cannes, na Riviera francesa, na quarta-feira.
"Um filme que é como uma taça de champanha!", aplaudiu o La Croix, invertendo a metáfora da bebida espumante para admirar a exuberância da mistura de cenários históricos com uma trilha sonora feita de músicas de artistas contemporâneos, como Madonna e U2.
Seguida por uma festa descrita como a mais lauta já vista em Cannes, a estréia de Moulin Rouge, segundo o jornal, foi mais glamourosa do que qualquer outra coisa vista no primeiro dia.
Ninguém questiona a qualidade de estrela da atriz principal, Nicole Kidman, cuja foto -- além da história de sua separação recente de Tom Cruise -- foi reproduzida com destaque na imprensa francesa. Mas alguns críticos acharam que, no caso da atriz australiana, o rigoroso treinamento coreográfico ao qual Luhrmann submeteu seu elenco não deu resultados.
A crítica Marie-Noelle Tranchant, do Le Figaro, saudou Moulin Rouge como "fabulosa ode à arte do espetáculo", e não viu problema no misto de música moderna e cenas geradas por computador da Paris da Belle Époque. "O filme cria um tempo que vai além da própria essência do lirismo", comentou.
O jornal do Partido Comunista francês, L'Humanité, não poderia discordar mais. "É lixo do começo ao fim", fulminou. "Mas nos dá pelo menos uma coisa boa: de agora em diante o festival só vai poder melhorar".