Ranking
Colunistas
Festivais
Chats
Newsletter
E-mail
Busca
 

Morte e luto são os temas do segundo dia em Cannes

Quinta, 10 de maio de 2001, 14h57

Divulgação
Cena de "Distance", de Kore-Eda Hirokazu e "R-Xmas", de Abel Ferrara
A morte, a de um irmão no espanhol Pau i el seu germa de Marc Recha, as da matança de uma seita apocalíptica no japonês Distância de Kore-Eda Hirokazu, é o ponto de partida dos dois filmes apresentados esta quinta-feira em competição no Festival de Cannes, e que propõem duas reflexões distintas sobre o luto.

Único representante do cinema espanhol na seleção oficial, o filme de Recha, falado em catalão e em francês, é a história de um luto, o de Alex, que deixou Barcelona para ir viver em um povoado dos Pirineus onde se suicidou.

Seu irmão e sua mãe se trasladam ao povoado de montanha onde vivia e conhecem lá sua noiva e seus amigos. O povoado e as montanhas que o cercam - a paisagem no filme é grande personagem - serão cenários do encontro desses personagens ligados por Alex, encontro que de certo modo mudará todos eles.

Recha trabalha com vários projetos de roteiro, com uma mínima infra-estrutura técnica e constrói uma narrativa linear que vai adaptando em função da improvisação dos atores, de idéias ou limitações surgidas na filmagem, feito com a câmara na mão.

"O cinema é como a vida, não se faz o filme que se quer mas o que se pode. Na vida também fazemos o que podemos", diz o diretor.

O outro filme em competição, Distância, do japonês Kore-Eda, parte de uma matança cometida por uma seita apocalíptica.

Evidentemente, os crimes da seita Aun deixaram cicatrizes no Japão, cujo cinema se interroga sobre as causas e as consequências do fenômeno do crime em massa. Ano passado, Aoyama Shinji apresentou neste mesmo festival Eureka. Neste filme, ele aborda magistralmente as seqüelas que restam nas vítimas que sobreviveram a uma tomada de reféns e a uma matança cometidas por um desequilibrado.

Kore-Eda opta pelos parentes dos assassinos que se suicidaram ao mesmo tempo que mataram. Quatro deles se reúnem a cada ano para prestar homenagem aos seus mortos no lugar em que vivia a seita, longe das oficiais cerimônias às vítimas. No terceiro ano, encontram no lugar um membro da seita que escapou dela antes do massacre. Todos tentam compreender e destacam o impossível luto de seres aos quais amaram, pelos quais foram abandonados fazendo-os sofrer e que se converteram em assassinos.

O cineasta japonês não responde aos "porquês" que torturam seus personagens, mas tenta compreendê-los. "Meus personagens nem repudiam nem pedem piedade aos assassinos. Estão amarrados pelas circunstâncias entre as vítimas e os criminosos. É por essa razão que os escolhi. Creio que para viver na sociedade moderna, é preciso aceitar essa complexidade", assinala.

Dois filmes da seção Un Certain Regard completavam o programa oficial desta quinta-feira, R-Xmas do nova-iorquino Abel Ferrara e La Libertad do argentino Lisandro Alonso.

R-Xmas explora o universo das drogas mostrando traficantes como membros de uma família comum: um casal de imigrantes formado por um dominicano e uma porto-riquenha que, vindo para os Estados Unidos a fim de fazerem fortuna, tentam fazê-la da maneira que podem: traficando droga.

Personagens sem nome, interpretados por Lillo Brancati Jr. e Drea de Matteo, se comportam como qualquer família, cuidando de sua filha e organizando a festa de Natal como qualquer um... quando não são obrigados a enfrentar outros bandos de traficantes.

Ambiente de bas fond, vida de imigrantes, história sem desenlace, o filme não termina com a palavra "fim", mas com "continuará..."

Finalmente, único longa latino-americano da seleção oficial, La Libertad, de Lisandro Alonso, converte o espectador em testemunha de um dia na vida de um lenhador dos pampas.

Alonso filma minuciosamente a rotina diária do homem que vive em um isolamento quase total. De maneira original e sumamente sóbria, sem atores, dado que os personagens se interpretam a si próprios, com longos planos de câmara fixa e praticamente sem diálogos, o diretor argentino opta por converter o espectador em testemunha de uma vida humilde em um dia qualquer no qual nada ocorre de extraordinário, e pede sua cumplicidade para pensar o filme, confrontá-lo com sua experiência e, em última instância, dar-lhe seu próprio sentido.

Reuters

mais notícias
 
Copyright© 1996 - 2001 Terra Networks, S.A.
Todos os direitos reservados. All rights reserved