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O Apocalipse segundo Coppola volta a Cannes 22 anos depois

Sexta, 11 de maio de 2001, 16h55

Palma de Ouro em 1979, Apocalypse Now de Francis Ford Coppola volta ao Festival de Cannes quase um quarto de século depois, confirmando que no cinema, assim como na pintura e literatura, os clássicos não envelhecem.

Filme maravilhoso, marco de uma época do cinema americano, a respeito de Apocalypse Now se escreveu rios de tinta, já se disse tudo, desde os vários obstáculos enfrentados na gravação até as extravagâncias de Marlon Brando. Foi feito inclusive um filme do filme.

A nova versão, apresentada nesta sexta-feira na seleção oficial de filmes, tem 53 minutos a mais do que a primeira e está fora do concurso. Ela inclui cenas que tinham sido cortadas na primeira montagem e que trazem elementos novos ou mais dados históricos.

Um exemplo é a longa seqüência na plantação de franceses que situa a guerra do Vietnã na perspectiva histórica da colonização francesa na Indochina e na luta do povo vietnamita por sua independência.

Entretanto, tudo isso poderia não estar ali. As seqüências acrescentadas não são essenciais, e se o filme tem a mesma beleza e a mesma força de há 20 anos, se o espectador se sente igualmente emocionado é porque o Coppola possui o gênio criador que é capaz de reproduzir no celulóide a atrocidade e a miséria humana.

Desta forma, não é de se estranhar que os jornalistas tenham perguntado a Coppola na coletiva de imprensa em Cannes se a nova versão não tinha objetivos comerciais e não estéticos.

O diretor afirma que não é assim, e que a primeira versão lhe foi imposta pelas circunstâncias da época. "A verdade foi que fizemos uma primeira versão de quatro horas e meia e na época era impossível exibir um filme de mais de duas horas. Entretanto, os anos passaram e agora é viável. Como tínhamos os direitos, resolvemos retomá-lo e fazer um versão mais longa", explicou Coppola.

"Acredito que esta versão é melhor, é um filme mais completo, que mostra várias facetas", insistiu.

Ao discutir se uma obra de arte nunca está terminada e se é necessário estabelecer normas sobre como um filme pode ser modificado, o diretor se remete ao direito de criação e não ao de propriedade.

"A maioria das obras de arte encontram uma forma que é a sua, que satisfaz seu autor. No caso de Apocalipse, era uma questão de duração. Na época, pudemos obter a autorização de fazê-lo e conseguimos sem causar tensão, por que não tínhamos pressões econômicas de um filme que acaba de ser realizado. Também graças à tecnologia digital, que permite mostrar novos aspectos de um filme sem correr o risco de destruir o original. Esta foi nossa aventura", explicou.

"Entretanto, quanto a mudar obras de artes, o cinema deve ser como a pintura. Num quadro de um grande mestre não se tem o direito de cortar um pedaço. A gente tem direitos sobre estas obras de arte, não tem o direito de fazer algo contra a vontade do artista", afirmou Coppola, referindo-se à decisão de colorir um filme em preto e branco.

AFP

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