O gesto histórico destes homens é relatado por Claude Lanzmann, em Sobibor, filme apresentado neste domingo numa sessão especial do Festival de Cannes, 16 anos depois da estréia da sua obra Shoah.

Narrado em ritmo de suspense, através do testemunho de um único sobrevivente, Yehuda Lerner, gravado em Jerusalén em 1979, este filme é a história de um homem de grande valor, "de um pacifista que aprende a matar", declarou Claude Lanzmann à reportagem.

Para contar a história, o cineasta mostrou o percurso de seu herói desde a Bielo-Rússia até Sobibor. Yehuda lembra a aventura fantástica do adolescente que ele era então. "É preferível ser enforcado do que morrer de fome", disse, acrescentando que fugiu de sete ou oito campos de concentração e que teve sempre "uma sorte incrível".

Em Minsk, os que não tinham condições de trabalhar eram mortos logo. Entretanto, Yehuda, que tinha tifo, foi enviado para um campo vizinho, onde estavam presos os soldados judeus do Exército Vermelho.

Quando estes foram transferidos para Sobibor, um empregado da estação ferroviária de Chelm (Polônia) lhe disse: "fujam porque vão queimá-los. "Ninguém acreditou nele e quando compreendemos que não sairíamos vivos, já era tarde demais", disse Yehuda.

Sua sorte foi se encontrar entre estes soldados do Exército Vermelho, que tinham o sentido de organização e de disciplina e sabiam lutar. Um oficial, Alexander Pechersky, organizou o plano que seria executado em menos de seis semanas.

Yehuda conta como tiraram pedaços de madeira das construção e as afiavam depois. Relata ainda como esperou a chegada de um militar alemão às quatro em ponto para provar um casaco e rachou sua cabeça em dois pedaços.

"Tudo durou menos de um segundo. Rachei sua cabeça em dois pedaços. Eu era um menino, mas considerava uma honra matar um alemão. Antes disso, não tinha matado uma mosca".

A rebelião de Sobibor deu fim ao campo de extermínio no qual morreram 250 mil judeus.