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Cannes se desnuda e explora o tema da sexualidade

Sexta, 18 de maio de 2001, 15h27

Cena de "The Centre of The World", de Wayne Wang
Sexo canibal, sadomasoquista, amores sáficos, masturbação... o Festival de Cannes se desnuda e as cenas picantes já não estão reservadas à noite do Hot de Ouro, pois também figuram abertamente na seríssima seleção oficial.

Do sexo hard de Trouble every day, de Claire Denis, ao pornô soft de The center of the world, de Wayne Wang, passando por A pianista, de Michael Haneke, a seleção oficial oferece uma ecléctica gama de fantasmas eróticos nesta edição 2001.

Na seção paralela, a Semana Internacional da Crítica, Jean-Pierre Léaud, o ator favorito de François Truffaut, encarna Le pornographe junto com a jovem Ovidia, premiada com um "Hot" da indústria do cinema pornográfico.

Com Romance, Baise mo e Intimité, o cinema faz retroceder as fronteiras e os tabus são quebrados.

Exibido esta quinta-feira à noite, The center of the world reúne um "golden boy" do Silicon Valley e uma jovem que é, ao mesmo tempo, música (baterista) e stripper.

Richard (Peter Saasgard), gênio da informática e dos videogames, passa as noites em branco diante da tela. Para ter acesso a prazeres menos virtuais e escapar da solidão, propõe à Florencia (Molly Parker) uma viagem de três dias até Las Vegas, pagando a ela por isso 10.000 dólares. A jovem aceita, mas coloca condições: "nem beijos na boca, nem penetração", pagamento em efetivo, quartos separados e horários estabelecidos. Só que Richard se apaixona por Florencia, o que não estava previsto no contrato, daí...

É possível reconhecer o diretor de Cortina de fumaça e Brooklyn boogie neste filme rodado com câmera digital, e que se assemelha a um pornô soft, nem muito bem filmado, nem muito bem interpretado. "Estas minicâmaras nos colocam na situação de um voyeur", declara Wayne Wang, fascinado totalmente por O último tango em Paris.

"Em Silicon Valley existe muito dinheiro e pouca maturidade", acrescenta. "Estes jovens de 20 anos não têm tempo para desenvolver as relações humanas, e muitos clubes de strip tease funcionam com não-profissionais, estudantes, musicistas, mães solteiras. É o sexo à la McDonald", comenta.

Mas explícito em palavras do que em imagens, The center of the world deixou perplexos os participantes do festival que ignoravam o "fantasma chinês do fogo e do gelo" (pimenta e cubos de gelo).

E apesar de Wayne Wang não vacilar em dirigir a lente de sua câmara para a vagina, isso não é nada comparado com Vincent Gallo, o canibal de Trouble every day, Claire Denis, que devora a citada parte da anatomia.

Nesta versão erótica dos contos noires tradicionais, este Hannibal alucinado tem por companheira Beatrice Dalle, igualmente faminta, que atinge o orgasmo devorando o sexo de seu infeliz amante.

Em A pianista, Isabelle Huppert vê espetáculos de "peep show" cheirando os lenços de papel abandonados por seus antecessores, mutila o sexo com uma navalha de barbear e tenta converter o aluno que suspira por ela ao sadomasoquismo.

Clássicos amores sáficos unem as protagonistas de La répétition, de Catherine Corsini, e de Mulholland Drive, de David Lynch. Por sua parte, a viúva desconsolada de Qué hora es allí se entrega ao onanismo com a almofada na qual repousou a cabeça de um defunto.

Por fim, em Agua tibia bajo un puente rojo, o orgasmo da bela Saeko faz sair a água dos gêiseres, levando-a até o rio, onde atrai os peixes...

AFP

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