O primeiro longa-metragem da história a ser filmado inteiramente na língua inuit (esquimó) saiu do festival de cinema de Cannes no domingo com o cobiçado prêmio de melhor diretor estreante para Zacharias Kunuk. Atanarjuat the Fast Runner, exibido fora da competição principal de Cannes, se baseia numa antiga lenda inuit e foi filmado in loco, numa ilha canadense próxima do Círculo Ártico.
É a história de dois irmãos, Atanajuat e Aamaqjuaq, que lutam contra um xamã malévolo que divide sua pequena tribo nomádica.
"Quando concluímos o filme e o mostramos aos patrocinadores, ficamos felizes ao sentir que tínhamos feito o nosso trabalho bem. Resta ver agora se o mundo externo o vai aceitar", disse Kunuk, 44, em coletiva de imprensa concedida no domingo.
Kunuk precisou derrotar concorrentes de peso para levar para casa o prestigioso prêmio. Vicky Jenson e Andrew Adamson, diretores do popular filme animado Shrek, da DreamWorks, também eram candidatos fortes.
Mas o diretor inuit parecia estar mais preocupado com a recepção que seu filme terá entre seu povo do que com a opinião dos críticos em Cannes.
"Esta é nossa bíblia", falou, referindo-se à lenda de Atanarjuat. "Todo inuit conhece a história de cor. É muito importante reproduzi-la certo. Se houver alguma coisa errada, eles saberão", explicou à revista The Hollywood Reporter na semana passada.
O filme custou 2 milhões de dólares e foi feito em cooperação com o Conselho Nacional de Cinema do Canadá. Seus criadores disseram que esperam que ele funcione como contrapeso aos retratos cinematográficos dos povos indígenas feitos por "sulistas".
Desde o esquimó representado por Anthony Quinn em Sangue sobre a neve, de 1959, até os índios bêbados e sedentos de sangue dos faroestes da John Wayne, os indígenas sempre lamentaram a maneira como são retratados na tela grande.