Tabu (Gohatto) é o 23º filme da carreira de Nagisa Oshima. A trama sobre o desejo e a morte, tem por contexto uma trágica história de amor entre samurais. Rodado com colaboração financeira francesa (Canal+ notadamente), Tabu foi um dos dois filmes japoneses em competição em Cannes este ano ao lado de Eureka, de Aoyama Shinji, que estreou há pouco tempo no Brasil.
Há quatro anos, o cineasta de O Império dos Sentidos (1975) e de Furyo (1983) teve um derrame que o deixou consideravelmente deficiente. Voltou para trás da câmera, graças essencialmente à televisão. "Não tenho uma idéia concreta sobre as consequências desse ataque sobre meu trabalho de cineasta. Minha maior angústia antes da primeira tomada era saber se eu poderia dizer "silêncio ação"", disse Oshima durante sua passagem em Cannes.
Tabu é a adaptação de várias novelas de um escritor japonês famoso, Ryotaro Shiba (1923-1996). A ação se desenrola num clã de samurais de elite, o Shimsengumi, encarregados de combater os "contra-revolucionários" em Kyoto em 1865. A chegada nesta comunidade de Kano, um adolescente de físico andrógino, atiça os ciúmes destes homens dilacerados pela guerra.
Além da história de amor de desenlace trágico, o cineasta relata uma página decisiva da história do Japão, à beira da guerra civil. O Shimsengumi estava a serviço do governo militar que, durante vários séculos, confiscou o poder do império e queria abrir o país à influência estrangeira. O governo militar será vencido pelo imperador que se tornará de repente o campeão da independência nacional. Em 1868, há o advento da dinastia Meiji.
Tabu é um filme contemporâneo que denuncia a tentação fascista inerente à sociedade japonesa, declara Oshima. O Shimsengumi era uma espécie de escola do fascismo", diz ele. Com este filme, Nagisa Oshima propõe uma obra de grande beleza plástica, onde o estetismo só faz aumentar a violência dos sentimentos e do drama que tece. Embora se trate de um filme de samurais, ele declara que não rodou Tabu como um filme histórico. "Para mim, não há diferença com um outro gênero de filme, não se pode compreender o mundo dos samurais sem mostrar o aspecto homossexual fundamental desta comunidade", assinala o cineasta.