Machado de Assis deve estar se virando no túmulo. De felicidade. Memórias Póstumas, de André Klotzel, exibido na mostra competitiva do 29º Festival de Cinema de Gramado, mostra que sim, o cinema brasileiro tem capacidade de filmar bem uma adaptação de um clássico da literatura.
Para quem não leu Memórias Póstumas de Brás Cubas, talvez o mais conhecido dos romances de Machado de Assis, um breve resumo da história: a trama começa com o enterro de Brás Cubas, um malandro e bon-vivant do Rio do século 19. Seu "fantasma", então, resolve fazer uma retrospectiva dos episódios que marcaram sua vida: o nascimento, a infância, os romances, as desilusões, a morte. Apesar de seguir ordem cronológica, desde o nascimento até sua morte, Brás inicia seu relato com seus últimos momentos, para só depois contar sua biografia.
Pequenas adaptações foram feitas do livro para o filme, sem, porém, qualquer perda para o ritmo da história. Exemplo disso é o uso do termo espectador em vez de leitor, já que Brás faz seu relato de forma pessoal, como se conversasse com o leitor/espectador. O relato também é transferido para os dias de hoje, como se, em pleno ano 2001, Brás tivesse resolvido sair da tumba e contar sua história.
O humor ora sutil, ora escrachado do romance também foi transposto às telas com maestria, graças às atuações impecáveis de Reginaldo Faria e Petrônio Gontijo como Brás Cubas, o primeiro como o fantasma e o segundo como o jovem Brás. Viétia Rocha, como Virgília, a eterna paixão de Brás, e Marcos Caruso, como o amigo Quincas Borba, não ficam atrás, reproduzindo fielmente a singularidade dos personagens de Machado. A produção do filme é o ingrediente final para o sucesso de Memórias Póstumas: figurinos, cenários e maquiagem impecáveis levam o espectador direto da poltrona ao universo de Brás Cubas.
Memórias Póstumas levou os cobiçados prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor e mais três Kikitos: o de Melhor Roteiro para André Klotzel, Melhor Atriz Coadjuvante para Sônia Braga e o Prêmio da Crítica.