A 58ª edição do Festival de Veneza, que começa na quarta-feira, rende homenagem ao cinema latino-americano, que, pela primeira vez em muitos anos, foi convidado a participar de forma representativa e em várias seções no mais antigo e famoso festival de cinema do velho continente.Confira
Lista com os 41 filmes em competição
Três filmes argentinos, dois brasileiros, um mexicano, um chileno-mexicano e um curta cubano representam o renascer do cinema latino-americano, que este ano compete com quatro filmes no duplo concurso, pelo tradicional ao Leão de Ouro e pelo novo Leão do Ano, um prêmio complementar de 100 mil dólares.
Dois filmes, Y tu mamá también do mexicano Alfonso Cuarón, sucesso do ano em seu país, no qual dois adolescentes descobrem a feminilidade, e Abril Depedaçado, do brasileiro Walter Salles, famoso pelo premiado Central do Brasil, que desta vez baseia seu filme num romance escrito pelo albanês Ismail Kadaré, ambientando-la no Brasil de 1910, concorrem na 58ª edição, junto com os autores do nível do engajado inglês Ken Loach (Navigators) ou do israelense Amos Gitai (Éden), com roteiro de Arthur Miller.
A projeção de Los Otros, do espanhol nascido no Chile Alejandro Amenábar, é muito esperada. O filme compete com o produzido por Tom Cruise com sua ex-mulher Nicole Kidman, diva do cenário, que há dois anos encantou o Lido com o último e inquietante filme de Stanley Kubrick.
Cineastas desconhecidos, que apresentan seus primeiros longa-metragens, formados na Universidade de Cinema de Buenos Aires, como o argentino Juan Villegas (Sábado), - outros dois compatriotras, Isidro Tores Manzur e Verónica Chen apresentam também suas obras em outras seções - competem na seção Cinema do Presente junto com monstros sagrados da Sétima Arte, como o alemão Werner Herzog (Invencível).
Outro latino-americano, o chileno Andrés Wood, que tinha conquistado o festival de Trieste, na Italia, com suas Histórias de futebol em 1998 e que em 1999 foi premiado pela fotografia com O Desquite, desta vez disputa o Leão do Ano com La fiebre del loco e a loucura provocada por um marisco afrodisíaco.
O drama dos filhos dos desaparecidos dados em adoção aos assassinos de seus pais, com Filhos, o filme do italiano Marco Bechis, nascido no Chile e crescido na Argentina, também compete nesta seção, impondo um tema que o autor de Garagem Olimpo não pode e não quer esquecer.
Poucas vezes em sua história o festival veneziano apresentou uma gama de filmes tão ampla como este ano, da Albânia a Filipinas, do Chile a Hong Kong, já que a fórmula de dois concursos paralelos, com júri diferente, permite oferecer um cinema novo. Produções que poderiam passar despercebido, mas foram selecionadas, dando-lhes o mesmo valor das que participam da disputa oficial.
Paralelamente à competição, também serão projetados filmes interessantes. No total, 19 filmes foram convidados, entre os quais estão as últimas criações de Woody Allen, Steven Spielberg, David Mamet, John Carpenter e Eric Rohmer, com uma história particular sobre a revolução francesa (L'anglaise et le Duc).
A maratona de filmes, 146 no total, inclui ainda o trabalho do veterano brasileiro Julio Bressane, com Dias de Nietzsche em Turim e uma obra-prima do argentino Mariano Torres Manzur, Porfiados, na seção Novos Territórios.
Um dia será dedicado ao novo cinema argentino, com a projeção de filmes e curta-metragens em cooperação com o Festival de Cinema Independente de Buenos Aires, na qual participarão autores e críticos deste país.
A mostra, que termina no dia 8 de setembro, com a projeção do filme francês Cet amour là de Josee Dayan, com Jeanne Moreau no papel da escritora Margherite Duras, e um musical hindu Asoka de Santosh Sivan, entrega este ano ao diretor francês Eric Rohmer o Leão de Ouro por toda sua carreira.
Para a ocasião, o diretor francês escorregadio abre uma exceção e vai pela primeira vez ao Lido veneziano para receber o prêmio no próximo dia 7.
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